Neste 5 de junho, a ABONG quer mobilizar corações e mentes para responder aos desafios da crise socioambiental que atinge todo o planeta, evidenciada pelas mudanças climáticas, pela progressiva escassez da água, pela persistência do crescimento da fome e pela ameaça da insegurança alimentar.
Nosso ponto de referência é a região da Amazônia Brasileira, emblemática deste dia pelos conflitos que nela se dão. De um lado temos o crescente reconhecimento de seu valor como bioma para a sustentabilidade do planeta. E de outro temos sua transformação em objeto da vitalização do crescimento econômico do país por meio da “redescoberta” dos seus recursos naturais concentrados nos rios caudalosos, que abrigam uma imensa reserva de energia hídrica, e nos estoques minerais existentes em grandes quantidades no seu subsolo e cobiçados cada vez mais pelas mineradoras multinacionais.
O dia 5 de Junho servirá para que o governo Brasileiro alardeie com toda força a potência de sua matriz energética, composta em grande parte por “energia limpa” proveniente das hidroelétricas em funcionamento, em construção e a serem construídas na região. No Plano Decenal de Energia 2010-2020, prevê-se construir na Amazônia perto de 200 barragens, o que transformará a região numa das mais importantes fornecedoras de energia para o país.
Com certeza, o discurso oficial mencionará uma significativa redução do desmatamento anual da floresta tropical, mas contraditoriamente, uma parte significativa da Amazônia brasileira está sendo transformada em província industrial, impulsionada pela indústria de ferro e alumínio, que estão entre as mais poluidoras do mundo.
As antenas da ABONG, estendidas na região por meio de suas associadas, nos transmitem, entretanto, mensagens nada positivas em termos socioambientais. Para os povos da Amazônia, a energia produzida pelas hidroelétricas não tem nada de limpa, significando de fato a transformação dos rios em mercadoria, destruindo imensas áreas de riquíssima bio e sócio diversidade, provocando a insegurança alimentar de milhares de seres humanos (pescadores(as), extrativistas, quilombolas, indígenas) e produzindo gazes poluidores que contribuem para a insustentabilidade da vida no planeta.
Essa situação tem provocado o deslocamento de massas de trabalhadores e trabalhadoras em busca de emprego, detonando um colapso dos já deficitários serviços e equipamentos urbanos da região, com o prejuízo dos direitos sociais básicos e da qualidade de vida dos amazônidas, contribuindo para uma periferização das pequenas e médias cidades em que se localizam esses grandes projetos. Os prejuízos sócio-ambientais são irrecuperáveis e resultam de estudos de impacto, imprecisos e inacabados, agravados por audiências públicas propositalmente mal organizadas e cheias de promessas que não serão cumpridas.
O forte impacto socioambiental negativo se desvela nas vozes do povo Mundurucu, à beira do rio Tapajós, quando lembraram da invasão dos brancos colonizadores em tempos idos e das suas gloriosas lutas de resistência. Isto lhes rendeu recentemente a acusação, por parte de um jornal de porte nacional, de que estariam incentivando a violência, interpretação típica de dominador que não enxerga a violência das suas ações na vida dos(as) dominados(as).
Num grande encontro realizado no dia 7 de novembro de 2009, os povos de Volta Grande do Xingu escreveram e publicaram uma carta com o seguinte trecho: “Belo Monte (a hidrelétrica) é um erro para a região e para o Brasil. Reafirmamos nossa incessante luta em defesa de nossa vida e do nosso patrimônio maior: o rio Xingu! O rio é nosso caminho, o rio é nossa vida, o rio é nossa existência. Estamos em aliança com os povos indígenas na defesa dessa causa e contra todo e qualquer projeto que ameace nossa existência e de nossas futuras gerações”
Para a ABONG, 5 de junho é dia de exigir honestidade e transparência radical destacando: i) a projeção dos impactos sócioambientais de qualquer projeto em nome do desenvolvimento sustentável, seja ele do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) ou não; ii) a irrestrita solidariedade com os povos na luta pela conquista e manutenção dos seus direitos no seu sentido mais amplo (DhESCA); e iii) na incessante busca de caminhos sustentáveis, centrada nas necessidades humanas e não no mercado, para encontrar um processo de desenvolvimento que consiga preservar a vida de todos os seres no planeta!