Professor emérito do Instituto de Estudos Europeus da Universidade de Paris e secretário-geral da associação Mémoire des Luttes, Bernard Cassen fez uma breve análise da conjuntura mundial, lembrando que “não devemos fechar os olhos para o terreno que vem sendo ganho por outras potências, como China”. Representante do Fórum Mundial de Alternativas da França, ele participou da mesa sobre “Conjuntura política hoje”, no dia 26, em Porto Alegre.
Salientou a falta de compromisso com o meio ambiente, a inflexibilidade do grupo hegemônico no país asiático com relação ao sistema de proteção social e a políticas para a área rural. “Precisamos avaliar a postura em relação a esses governos e parar de considerar que as regiões constituem conjunto homogêneo. Há enclaves de norte no sul e de sul no norte.” E foi adiante: “Esses governos têm como prática a política de redistribuir riquezas? Apoiam-se nos movimentos sociais ou os reprimem? Apoiam ou não a causa do povo palestino, a emancipação da mulher, medidas para conter as mudanças climáticas? Essas são as questões que devem estar postas.”
Dos EUA a Honduras
À mesa, Michael Leon Guerrero, da Grassroots Global Justice, relatou a trajetória de lutas nos Estados Unidos desde 2001 e os desafios até chegar à conjuntura atual no país. “Em 2008, tivemos a crise financeira e a eleição de Obama. O desemprego é em média de 10%, apenas entre os trabalhadores formais, como não víamos há décadas. E a partir de setembro e outubro, quase 1 milhão de pessoas perderam suas casas porque não puderam pagar suas hipotecas. A pobreza vem crescendo.” Como agravante, Guerrero apontou o fato de o atual governo, cuja vitória foi amplamente celebrada, pender para o lado do neoliberalismo. “Não tem conseguido se manter comprometido com os movimentos – os quais não têm tido força e estão fragmentados. Assim, em termos de ações sociais, estamos engatinhando nos Estados Unidos.” Para ele, o tema dominante em 2011 no país provavelmente seja a questão da imigração – cuja repressão por policiais foi autorizada mediante a assinatura pelo Governo da Resolução 287G. “Essa será das maiores batalhas políticas do próximo ano.”
Presente ao FSM, Lorena Zelaya, presidente da Frente Nacional de Resistência Popular de Honduras, lembrou ainda o papel dos EUA em prol do golpe em seu país. E ressaltou que a luta popular continua, clamando a que a comunidade internacional não reconheça o governo golpista.