Das periferias para o centro

“Com um olhar que não está no centro, podemos ver melhor os vários lados da cidade.” Assim iniciou sua fala o sociólogo português e professor da Universidade de Coimbra Boaventura de Sousa Santos, durante o Fórum Social Mundial, na Grande Porto Alegre. Ele abriu em 26 de janeiro as palestras do Seminário Internacional de Metrópoles Solidárias, Sustentáveis e Democráticas, que vai até dia 28. A iniciativa ocorre no Auditório do Unilasalle (Centro Universitário La Salle), na cidade de Canoas.

Discorrendo sobre o tema “Mundialização alternativa e emergência das periferias”, Boaventura destacou que muitas boas ideias têm surgido nas chamadas periferias do sistema mundial, onde ocorre muita “experimentação social”. Uma das práticas positivas que vingou no Brasil, a partir de cidades como Porto Alegre, segundo enfatizou o sociólogo, é o orçamento participativo, instituído ali no início dos anos 90. “Técnicos de autarquias europeias e de outros países da América Latina vieram para cá aprender.” A exemplo dessa, diversas formas de gerir a cidade, com a participação da população, têm surgido fora dos centros de poder, continuou.

Para ele, diante de transições em curso no mundo – como da ditadura para a democracia plena, do colonialismo para a descolonização e do capitalismo para o socialismo -, as periferias têm papel central na articulação dos movimentos sociais em prol de soluções criativas. Ainda na opinião de Boaventura, a democracia participativa passa necessariamente pela promoção da interculturalidade, em que conhecimento acadêmico, técnico e saberes locais se complementem.