Criada a Altercom — associação da “outra” mídia

Associação Brasileira de Empresas e Empreendedores da Comunicação.

Esse foi o nome aprovado no sábado, para a entidade que deve reunir
editoras, sites, produtoras de vídeo, de rádio, revistas, jornais,
blogueiros, agências de comunicação e tantos outros que não se sentem
representados pelo condomínio comandado por Abril/Globo/Folha/Estadão, nem
tem peso econômico para atuar junto às grandes teles.

O nome fantasia da nova associação será ALTERCOM.

A entidade é fruto de quase seis meses de debate. Mais que tudo, é fruto da
experiência concreta.

A ALTERCOM surgiu como resultado das articulações inciadas durante a
Confecom – Conferência Nacional de Comuncação.

Como já escrevi aqui, um grupo de pequenos empresários da comuncação
conseguiu eleger uma bancada de 20 delegados por São Paulo, para participar
da Confecom. O grupo, conhecido como G-20, não se alinhava nem com as teles
(conglomerados milionários que chegaram ao Brasil recentemente, e também
estão em guerra contra os velhos barões da mídia), nem com o setor
tradicional de jornais/revistas e radiodifusão no Brasil.

O G-20 ajudou a aprovar muitos princípios importantes na Confecom –
incluindo a criação do “Conselho Nacional de Comunicação”.

A turma do G-20 percebeu, então, que havia espaço e necessidade para se
criar uma entidade que articulasse permanentemente esse setor.

No último sábado, o G-20 ficou maior. Um grupo de 40 ou 50 pessoas (o
pessoal da “CartaMaior” deve divulgar depois um balanço mais detalhado) se
reuniu em São Paulo e tomou a decisão de criar a entidade, que terá uma
dupla função: defender as posições políticas e os interesses econômicos dos
pequenos empresários (alguns nem tão pequenos assim) e dos empreendedores
individuais da comunicação.

Defender as posições políticas significa participar do debate nacional.
Exemplo: se a ABERT (que representa a Globo) ou a ANER (que representa a
Abril, basicamente) divulgam uma carta criticando a Confecom, por atentar
contra a “liberdade de expressão”, nosa entidade poderia fazer o
contraponto, em nomes dos empresários e empreendedores que não se alinham
com o grande capital.

A defesa dos intereses econômicos significa luta para que a repartição das
verbas públicas de publicidade seja mais justa, ajudando a incentivar uma
diversidade maior de vozes no Brasil. Num segundo momento, pode significar
também uma articulação para que os pequenos conquistem parte da verba dos
grandes anunciantes privados – por que, não?

Alguns dos presentes na reunião do último sábado propuseram que a entidade
trouxesse em seu nome a marca da “midia alternativa”. Queriam que a entidade
fosse a Associação da Midia Alternativa. O argumento é que essa marca
“alternativa” é usada no mundo todo, e seria também uma referência à
“imprensa alternativa” (jornais como Opinião, Movimento, Pasquim, Em Tempo,
EX, e tantos outros) que cumpriu papel importante na passagem dos nos 70
para os 80 no Brasil.

Mas a maioria preferiu manter essa marca de “alternativo” fora do nome, por
entender que poderia trazer a impressão de algo precário, sem qualidade. No
Brasil atual, quando falamos em “alternativo”, muita gente pensa em algo
feito de improviso, sem muita técnica.

Sabemos que não é uma visão justa. Mas a maioria preferiu deixar claro que
esse grupo não reúne gente amadora, mas um pessoal disposto a comprar a
briga com os grandes – de forma séria, competente, e profissional sempre que
possivel.

De toda forma, a referência ao “alternativo” de outros tempos (que muito nos
orgulha) ficou implícita na sigla – ALTERCOM.

O “alter” pode ser lido também como “outro”, diferente. E aí há uma
associação direta com a idéia do “outro mundo é possível” – tão presente no
Forum Social Mundial.

Não vou me adiantar mais. Até porque tudo isso deve constar da carta de
princípios e do estatuto da entidade – que devem estar prontos em 15 dias.
Aí, nova assembléia será convocada, para aprovação oficial da ALTERCOM.

A idéia é que dela façam parte revistas (como “Caros Amigos” e “Fórum”),
sites (como “CartaMaior”), editoras (como “Boitempo” e “Paulinas”), webTVs
(como “allTV”), jornais do interior (como “ABCD Maior”), além de agências de
comunicação e produtoras de conteúdo para cinema, teatro, rádio. Todas essas
são empresas constituídas, de forma convencional, com CNPJ, funcionários,
sede, contrato em cartório. O que as diferencia é o conteúdo que oferecem, e
o posicionamento polítco de seus proprietários.

Mas a ALTERCOM vai abrir espaço também – e aí, parece-me, está um grande
diferencial da nova associação – para centenas de “empreendedores”
individuais surgidos nos últimos anos no Brasil. Quase todos são blogueiros
(como esse “Escrevinhador”) que ajudaram a quebrar a lógica da comunicação
verticalizada.

Blogueiros como Eduardo Guimarães (“Cidadania.com”), Marcelo Salles
(“Fazendo Media”) e Luiz Carlos Azenha (“VioMundo”) já avisaram que vão
participar da ALTERCOM.

Quem se associar pagará uma pequena contribuição (certamente, haverá valores
diferenciados para “empresas” e “empreendedores individuais”).

A ALTERCOM pretende ser uma entidade nacional, aberta. Pode ser um embrião
para muitas experiências inovadoras. Tenho certeza.

Em 20 ou 30 dias, ela deve estar funcionando oficialmente, com registro em
cartório, site, escritório de representação.

Blogueiros de todo o país que quiserem participar devem ficar atentos. Em
duas semanas, teremos mais novidades.