A primeira caravana a chegar no Parque da Cidade, na manhã do dia de abertura do V Fórum Social Pan Amazônico veio de Altamira. Em três ônibus, 90 pessoas viajaram durante um dia, desde a comunidade de Jurunas, no sul do Pará. Ligadas ao Movimento Xingú Vivo Para Sempre, essas pessoas trazem a esperança de fortalecer suas lutas. Antonia Melo, uma das coordenadoras do movimento diz que “participaremos de todas as oficinas alusivas ao tema, mostrando nossa experiência e adquirindo mais conhecimentos, buscando fortalecer a aliança entre os povos indígenas”. Segundo Antonia, “o modelo de desenvolvimento do PAC é atrasado e destruidor, revelando a união do grande capital com os governos em todos os níveis”, sendo preciso sensibilizá-los com os movimentos ambientais em defesa de todos os rios da Amazônia, principalmente o Xingu.
O desespero de ver floresta e rios destruídos transforma em poetas agricultores humildes, pouco letrados, mas completamente integrados à natureza da qual fazem parte. Com seus gritos presos na garganta, colocam nas palavras que trouxeram para o Pan Amazônico a esperança de transformar a realidade que os aterroriza. Um exemplo vem de Lucimar Barros da Silva, agricultor, poeta e músico da Comunidade Divino Pai Eterno, para quem “poema é um desabafo para tentar quebrar a força das pessoas do mal”. Ele fez o poema abaixo especialmente para o Pan Amazônico, passando grande emoção ao lê-lo.
Amazônia pulmão do planeta
Amazônia tu és o guarda desse planeta a brilhar
Amazônia tu tens muitas espécies de animais e pássaros
Que só no teu jardim conseguem morar
Amazônia tu tens corações que te defendem
Porque sabem que têm que preservar.
Porque tu és a vida deste planeta
Que traz oxigênio para nós respirar
Amazônia eu moro dentro de ti
E quero permanecer a morar.
Tu tens muitos cantores quando é noite
Canta a rã, o sapo, o corujão, o gato do mato
Grita a onça, ruge o aracuan
Também canta declarando onde está
Amazônia tu tens árvores tão grossas que
Quatro homens de braços abertos não conseguem abraçar
Amazônia grita por socorro e não pode acabar
Amazônia tem a alvorada, a lambris
Canta declarando que o dia já vem a raiar.
Amazônia patrimônio da humanidade
De todos os seres que precisam respirar
Porque tu tens oxigênio que purifica nosso ar
Temos que defender a Amazônia
Que é nossa vida, nosso lar
Amazônia tem rios muito bonitos
Que só a mão divina pode formar.
O mundo inteiro tem que nos ajudar
A defender esses belos rios
Que os ambiciosos querem derrotar
Fazendo barragens para todos os lados
Sem caçar outra forma de eletrificar
Devemos ser inteligentes no sistema
Fazendo outras alternativas e não barragens
Deixando os nossos rios para as crianças brincar.
Altamira traz poesia de luta ao Pan
A vida sempre encontra uma saída. Mesmo que seja acabar com o ser humano que insiste em destrui-la. Viva os povos ribeirinhos, Viva o povo das florestas.
Lutar, resistir. Mesmo tendo claro que será muito dificil vencer.