Agroecologia e as mulheres no campo

O trabalho no campo, nos dias de hoje, começa a manter novos sistemas de relação do trabalho e o meio ambiente. Para falar sobre este tema, que envolve a agroecologia, o Blog Cidadãos do Mundo entrevistou a dirigente nacional do Movimento Mulheres Camponesas, Adriana Mezadri, que foi uma das participantes do Fórum Social Mundial 2010, em Porto Alegre. Ela integrou, pela manhã, o painel A Conjuntura Ambiental Hoje, com outros convidados do Brasil e do exterior, mediado pelo pensador Moacir Gadotti. Adriana é gaúcha, de uma pequena localidade a 400 km da capital, e única dos quatro irmãos, que continuou no meio rural.

Blog Cidadãos do Mundo – Qual é a história da origem do Movimento Mulheres Camponesas?

Adriana Mezadri – O grupo começou em 2004, devido ao desafio de combater o modelo do agronegócio e a violência praticada contra as mulheres e hoje já se encontra em 22 estados, com exceção de AP, DF, PI, RJ e SP. Nossa missão é tentar libertar as mulheres da exploração e discriminação e incentivar a agricultura agroecológica, baseada na ótica feminista. Apostamos na construção da relação da troca com a natureza. As camponesas são posseiras, quebradeiras de coco e ribeirinhas principalmente.

Cidadãos do Mundo – Explique como funciona, na prática, o sistema de agroecologia do movimento.

Adriana Mezadri – É importante lembrar que a agricultura foi descoberta pelas mulheres e que a agroecologia tem como base que trabalhemos com sementes crioulas, ou seja, nativas, que não sofreram alterações genéticas. Com isso, trabalhamos com hortaliças, feijão, milho, entre outras, com a proposta de obter uma alimentação saudável para subsistência, como também, para venda em feiras ou diretamente nas casas dos consumidores, que são trabalhadores como nós.

Cidadãos do Mundo – Além da alimentação, há investimento em outras frentes de produção?

Adriana Mezadri – Também estamos trabalhando com plantas medicinais, usando o conhecimento local, que vem de geração em geração. No meu caso, que sou da região sul, cultivo marcela, que é uma flor que tem um ritual interessante, de ser colhida na Sexta-feira Santa. É usada para problemas do sistema digestivo e desde que sou gente soube disso e agora a gente está re-significando esta cultura.

Cidadãos do Mundo – Vocês mantêm algum tipo de parceria técnica para o cultivo agroecológico?

Adriana Mezadri – São poucas as parcerias, como o curso de extensão que tivemos na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), sobre reconhecer que o trabalho das mulheres camponesas vai além do campo, cuidando de casa, de seus animais, dos idosos. Uma companheira do movimento chegou a levantar, que de maneira geral, chegamos a trabalhar, por muitas vezes, 18 horas por dia.

Cidadãos do Mundo – E a questão da mobilização contra a violência, o que tem a dizer?

Adriana Mezadri – É um assunto muito sério, porque no meio rural, há um maior conservadorismo. As mulheres no campo, na maioria das vezes, sofrem violência física e moral e são vítimas dos próprios companheiros ou familiares. A dificuldade aumenta, por causa das distâncias às cidades e que os agressores estão muito próximos. A Lei Maria da Penha é importante, mas as mulheres precisam ser mais incentivadas a fazer as denúncias. Esse é um dos principais desafios e bandeira de luta de nosso movimento, além da manutenção de direitos adquiridos, como o salário maternidade, e da aposentadoria como seguradas especiais, aos 55 anos, com um salário mínimo.

Veja mais nos posts – Especial Fórum Social Mundial 2010:
25/01 – Caminhada celebra diversidade
25/01 -Desafio é levar reflexão à massa
24/01 -Esta edição não reunirá multidões
21/01 – Pensata: Qual é o mundo possível?

Fonte: Blog Cidadãos do Mundo – jornalista Sucena Shkrada Resk
http://www.twitter.com/SucenaSResk