A grave crise ambiental por que passa a Terra deveria ser um dos pontos máximos dos debates do Fórum Social Mundial 2010, aberto nesta segunda-feira (25-01) na Usina do Gasômetro em Porto Alegre. Um dos fundadores do FSM, Cândido Grzybowski, que é o coordenador do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas, Ibase, acredita que a migração das discussões para as questões ambientais se deve à participação dos participantes mais jovens.
“Eles trouxeram uma outra preocupação. Antes, a agenda era marcada por ataques à globalização. E passamos, agora, a discutir justiça social, mas também justiça ambiental”. Para Grzybowski, “a crise ambiental é tão urgente quanto o combate ao neoliberalismo, que resultou na destruição do meio ambiente em praticamente todas as regiões do Planeta”.
O auditório da Usina estava lotado nesta manhã de segunda para a mesa de saudação do FSM Social 10 Anos e para o começo do seminário de balanço desta década. O ex-governador gaúcho Olívio Dutra encerrou esta primeira atividade salientando a diversidade do FSM, através do intercâmbio de experiências entre os participantes de várias partes do Brasil e do mundo. A mídia brasileira estava presente em peso: desde rádios nacionais como a Band News FM e a CBN, além do jornal paulista Brasil Econômico, e os jornais, rádios e TVs daqui do Estado.
E onde fica a questão ambiental ?
Mas e o problema do meio ambiental? A programação oficial dedica apenas a manhã desta terça, dia 26/01, das 9h às 12h, ao debate desta conjuntura, na Usina do Gasômetro, com a coordenação de Moacir Gadotti e a participação de conferencistas da Tailândia, Peru, Colômbia e Brasil. Os outros grandes debates estarão focados nas questões políticas, econômicas e sociais, com temas como Direitos e Responsabilidades Coletivas, Como Construir Hegemonia Política, Novo Ordenamento Mundial, Economia e Gratuidade, entre outros.
Com o grande destaque recebido pela Conferência de Mudanças Climáticas das Nações Unidas em Copenhague , era de se esperar que o FSM 10 Anos concedesse um espaço maior às questões ambientais.O vereador porto-alegrense Adeli Sell, do PT, acredita ser necessário centralizar o FSM em alguns grandes temas. “Veja bem: Copenhague não deu conta do tema ambiental. Não seria o caso de ter um conjunto de eventos para tratar das mudanças climáticas, do destino dos resíduos, dos cuidados com as águas?”
A multidão reunida no Gasômetro era disputada por várias ONGs e entidades divulgando suas atividades, todas procurando “vender seu peixe”. Buscando alguma coisa sobre a questão ambiental, terminei descobrindo a oficina “Clima e Meio Ambiente sob o Olhar dos Técnicos do IBGE”. O Sindicato Nacional dos Funcionários do respeitado instituto brasileiro de Estatística oferece esta atividade nesta quarta, dia 27/01, às 16h, na Sala de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa. E justifica o tema: “As mudanças do clima verificadas nos últimos anos, com as elevadas temperaturas registradas no Hemisfério Sul e as baixas temperaturas do Hemisfério Norte, chamam a atenção para a questão da relação Homem-Natureza. O IBGE possui conhecimento acumulado nesta área, a partir de trabalhos na Reserva do Roncador e na Bahia, além de estudos sobre as alterações climáticas e suas conseqüências para as populações em algumas regiões do País”.
Brasileiros se preocupam com o meio ambiente
E na quinta-feira, dia 28/01, das 14h às 17h, no Armazém 7 do Cais do Porto, haverá um debate sobre a questão ambiental, com a presença da senadora Marina Silva, do Partido Verde, mais o sociólogo português da Universidade de Coimbra, Boaventura dos Santos, e um dos criadores do FSM, Oded Grajew. E haverá pouco mais do que isso, em termos de mudanças climáticas e temas ambientais.
Se considerarmos recente pesquisa (dezembro de 2009) do Ibope Inteligência, a pedido da Federação das Indústrias de Minas Gerais, vamos perceber alguns dados que contrastam claramente com a pequena presença da questão ambiental no FSM 2010. Por exemplo: entre os mais de 2.000 cidadãos e cidadãs ouvidos pela pesquisa, 69% deles consideram que o aquecimento global é um problema imediato, que deveria ser combatido por todos. E mais: 61% dos brasileiros estão interessados nas questões ambientais, enquanto 60% estão preocupados com esta problemática, embora a primazia ambiental possa prejudicar um pouco o crescimento econômico do País.
Então, ao contrário do que acredita o dirigente do Ibase, Cândido Grzybowski, não são apenas os jovens ativistas que se interessam pela problemática ambiental. Os dados desta recente pesquisa do Ibope demonstram que a consciência ecológica avançou muito, em particular na última década. Enquanto isso, o mundo também avançou e o neoliberalismo chegou a um impasse aparentemente incontornável. Mas os dirigentes do FSM parecem ainda presos a um passado de grandes êxitos e enormes mobilizações, com bandeiras do século passado. É hora de avançar e de apresentar agendas mais contemporâneas. E com urgência: a Mãe Terra há horas está pedindo socorro.
(final do texto).
to a vcs artigo sobre o FSM 2010, abertura no Gasômetro, aqui em Porto Alegre.