Manifesto dos trabalhadores nas fábricas da Aracruz Celulose/Fibria à sociedade capixaba, para denunciar a atitudes arbitrárias e crueis da maior produtora de celulose branqueada do mundo contra seus empregados
São públicas as ações nefastas da Aracruz/Fibria contra o meio ambiente que transformou grande parte do Espírito Santo num deserto verde de eucaliptos, expulsando pequenos produtores, quilombolas e, principalmente, os índios que têm suas terras invadidas pelas florestas. Não bastasse tamanha crueldade, a Aracruz/Fibria monstruosamente ataca seus trabalhadores, demitindo, coagindo, massacrando e retirando direitos trabalhistas adquiridos nos últimos 30 anos.
Desde que a Aracruz Celulose apostou no cassino financeiro da especulação cambial (derivativos) e perdeu R$ 3 bilhões devido aos erros da sua diretoria, os(as) trabalhadores(as) são as maiores vítimas. A compra da Aracruz pela Votorantim Celulose e Papel (VCP) por R$ 5,4 bilhões, que resultou na Fibria, só foi possível porque o BNDES – um banco público, refúgio dos ricos – deu R$ 2,4 bilhões à VCP. Isso representou 40% do valor do negócio, deixando assim as famílias Ermírio de Moraes e as donas da Aracruz com seus patrimônios preservados e engordados. Depois de receber os bilhões do BNDES – o dinheiro do Fundo de Amparo ao Trabalhador – a primeira atitude da Aracruz/Fibria foi demitir. Em março de 2009, 140 papeleiros foram dispensados. Não houve responsabilidade social, já que a maioria dos demitidos está lesionada. Arbitrariamente, não buscou uma solução junto ao Sindicato dos trabalhadores (Sinticel) como rege a legislação trabalhista. Não usou as formas legais de preservar o emprego, como férias coletivas ou licenças remuneradas como fez a Samarco, a Vale, durante a crise. Ao longo de 2009, dispensou perto de 200 pais e mães de família.
Não satisfeita, a Aracruz/Fibria investiu contra o fundo de aposentadoria privada. Acabou com a Arus (Fundação Aracruz de Seguridade Social), obrigando os papeleiros a ingressarem noutro fundo: Funsejem (Fundação Senador José Ermírio de Moraes). Os trabalhadores da Aracruz Celulose e Portocel – patrocinadoras da Arus – não sabem se terão de volta o dinheiro investido no fundo. Mas a Aracruz foi além: acabou com
gratificação em dinheiro para os empregados com 10 anos de trabalho; a aposentadoria vitalícia, em caso de acidente e invalidez permanente e com os programas de estágio e trainee. Também não pagou a antecipação da Participação nos Lucros e Resultados (PLR) do ano passado, aumentando o arrocho salarial.
Tais medidas – uma desculpa para reduzir os prejuízos bilionários da jogatina financeira – e acima de tudo o empenho dos operários na produção de celulose, elevou o lucro líquido da empresa no primeiro semestre de 2009 em R$ 595,5 milhões. No ano da crise, o lucro da Aracruz foi de R$ 1,2 bilhão.
Mas isso só fez aumentar a maldade da Aracruz/Fibria. Em novembro/2009, data base para a negociação do Acordo Coletivo de Trabalho, a empresa investiu na retirada de direitos. Foram quatro meses de negociação, 11 reuniões e duas assembleias em que os(as) trabalhadores(as) – por voto secreto – rejeitaram o abono indenizatório de R$ 2 mil, em troca da redução de 40% do Abono de Férias e do pagamento de 25% nos Plano de Saúde e Seguro de Vida, até então bancados pela empresa.
A categoria, organizada pelo Sinticel, vem resistindo à chantagem, à coação, às ameaças de toda ordem, até que, no dia 1º de março a Aracruz/Fibria retirou os direitos trabalhistas. Outros itens de sua proposta foram sonegados, como reajuste salarial de 5,73%, ampliação dos auxílios alimentação e creche e os abonos: um de R$ 1 mil, para recuperar perdas salariais e, outro, de R$ 2 mil, compensando a coparticipação do empregado que passaria a pagar pelo Plano de Saúde e Seguro de Vida.
Como se não bastasse, a Aracruz/Fibria apontou contra o Sinticel e, judicialmente, bloqueou as contas bancárias do Sindicato, como quem diz: “Sem dinheiro, o Sindicato não poderá nos enfrentar.”
Esse manifesto conclama toda a sociedade, parlamentares, atores sociais e demais cidadãos a denunciarem essa brutal insensatez. O dinheiro público não pode ser usado para salvar empresas que precarizam as condições de trabalho, exploram e demitem trabalhadores (as).Essa é a verdadeira face, a face cruel da “nova” Aracruz Celulose/Fibria.
Aracruz (ES) 15 de março de 2010.
Sinticel-ES, Suport-ES, Rede Alerta, Famopes, MNDH-ES, FASE, MST, CUT-ES, Intersindical da Orla Portuária, Sintrexbem, Sintec-ES, Sindimetal-ES, Sindilimpe-ES, Sintracical-ES, Sindiupes, Oposição Sintramassas