Setembro foi um mês de muita diligência e trabalho.Trabalho árduo, difícil e avanços significativos. De algumas chatices, perdas, incompreensões e sustos. Também, de muita leitura de prosa e poesia, escoltada por vinhos, bons pratos e música em harmonia.
Olhando pelo retrovisor saúdo a minha capacidade de aprender que já “não devo dar
uma boiada para não sair de uma briga”. Conflito na maturidade é somente uma oportunidade para lidar bem com as diferenças e os contrários. O ponto de partida é colocar-se na posição do outro, e não se achar o todo poderoso. Superar conflitos pessoais é exercer o complexo e interminável aprendizado da renúncia do ego, nas relações interpessoais.
O que vou ganhar se vencer a briga com um Mané? Não é melhor ignorar? Tocar a vida pra frente sabendo que as pragas e os fuxicos não pegarão? Meu saudoso pai me ensinou que “praga de urubu magro não pega em boi gordo”.
Dizem-me: não há como ser feliz com: 142 mil mortos pela covid 19; um governo que está destruindo as instituições do Estado por dentro; um presidente de extrema direita; uma parcela da população brasileira desnudando a maldade e a desumanidade em nome de um deus beligerante, etc.
É verdade que é impossível ficar impassível diante de um país à deriva na saúde, na economia, nos direitos humanos, na cultura, na ciência e tecnologia e no meio ambiente. Pior: Bolsonaro está crescendo nas pesquisas de opinião, surfando na onda do auxílio emergencial proposto pela oposição.
E, no entanto, pergunto: protestar é apenas publicar memes e textos críticos nas redes sociais? Não é necessário resistir politicamente em outras arenas e espaços públicos?
Está mais do que na hora de parar de reclamar dos partidos, da oposição, dos sindicatos e de quem nada faz. De não resistir e se entregar ao sofrimento individual, sem se juntar ao outro na trincheira de luta.
Não temos robôs eletrônicos nem competência para ganhar a guerra nas redes sociais. Portanto, é tempo de abrir caminhos para a resistência democrática no embate contra a extrema direita no Brasil.
Estou convencido de que a pedagogia da solidariedade, do acolhimento, da comunhão e da compaixão é arma poderosa para vencermos a guerra ideológica. Enfim, o amor incondicional é mais poderoso do que imaginamos, especialmente durante a pandemia, quando não podemos encher as ruas para bradar: Fora Bolsonaro, Mourão, Maia, Alcolumbre, milicada & cia!
Ofertar o espaço do coração para alguém que está sofrendo as agruras reais e imaginárias da pandemia e do isolamento social, torna-se primordial para nos mantermos vivos e ativos no melhor do que possuímos, em termos de valores humanos.
Amor incondicional significa abrir os braços para acolher pessoas que não conhecemos pessoalmente, mas que estão no mesmo campo de vibração energética ou ideológica.
Claro que a pedagogia do amor é necessária, mas insuficiente para vencermos a guerra política e ideológica.
Logo, a militância política é primordial e insubstituível. Há dezenas de espaços públicos para praticar a resistência democrática. Escolha o que melhor se adeque ao seu modo de ser e estar presente no mundo aqui e agora.
Em 2016, durante o retiro espiritual na Catalunha aprendi o significado de usar uma aliança na mão esquerda. No ocidente é um símbolo de compromisso individual. Contudo, deveria ser encarado como o símbolo do amor incondicional pela humanidade. Viva o amor em suas múltiplas dimensões!
Brasília, 20/9/2020.
194 dias de confinamento inteligente e de bem com a existência.
Adroaldo Quintela (Adrô de Xangô).
Imagem: ciranda.net
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