Sou doido, estou doído, mas não são sou maluco.

Uma amiga da juventude e do movimento estudantil da Bahia nos anos 70 do século XX, resgatada pelo facebook há 3 anos, enviou-me um bela e singela homenagem reforçando a vontade de me encontrar em Salvador, após o juízo final da Covid 19. O abraço ficará para depois da vacina eficaz.

Estamos todos esperando o sol brilhar mais uma vez, em nossos corações e no leste do Oceano Atlântico. Cada um faz a travessia como pode, especialmente nós da classe média privilegiada.

Minha amiga disse que tinha medo das minhas diatribes. Como sempre fui impetuoso, brigão e voluntarioso ela temia que eu não conseguisse manter o confinamento. Consequentemente, haveria elevada probabilidade de ocupar a estatística de infectados, ou de mortos.

As pessoas que detestam a quadratura do círculo são as que mais prezam a vida. Temos uma sede imensa de fazer acontecer e renascer a cada instante. Não importa estarmos confinados na caixinha de um apartamento. A caixinha é o “play ground” universal para soltar as nossas crianças rebeldes e sapecas.

A nossa casa – independentemente do tamanho – é usina de afetos, esperança, saberes, fazeres e ponto de conexão tribal por meio das tecnologias da informação e do conhecimento.

O mais importante em nossa casa é permitir a conexão com o Universo, por meio da poesia, da literatura, das artes visuais, da música e da meditação.

A meditação/oração descansa a mente, tonifica o coração e nos insere no oceano do silêncio e da paz interior. Gera momentos de plenitude e felicidade espiritual. Fontes de infinita energia do bem.

O meu eu doido está extremamente doído com o caos e a situação sanitária, econômica, social, ambiental e política do Brasil. Diariamente choro de raiva e de impotência, por não ter capacidade para mudar o roteiro deste filme de terror.

No entanto, evito ser contaminado e paralisado pelo ódio. Mudo a estação. Saio da rádio do protesto e sintonizo a frequência do fazer algo de bom pra mim e para o outro, nos planos da subjetividade e da coletividade.

Estou trabalhando mais do que antes da pandemia. Comprometido voluntariamente com projetos inovadores; quiçá, transformadores. Do meu grão de areia do universo articulo, mobilizo e estimulo um monte de doidos para pensar diferente e contribuir para melhorar a nossa situação, tão logo ocorra o ansiado “the end”.

Não sou maluco de me suicidar saindo por aí frequentando os shoppings, bares e ambientes de negação da vida. Estou interditado para chamego e discaração. Jamais beijarei, abraçarei, transarei e viajarei de avião, enquanto não houver vacina.

Portanto, tenho convicção de que estou dando o melhor de mim para mim mesmo, e para o universo pandêmico e pós-pandêmico.

Adrô de Xangô

Imagem: ciranda.net

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