A ação é ato de resistência às ameaças de continuidade da demolição das edificações no TI Ponta Grande
Guerreiras e Guerreiros Pataxó fecharam trecho no km 10 da Rodovia Federal BR 367 na altura do Território Indígena Ponta Grande, no município de Porto Seguro – Extremo Sul da Bahia, hoje (01 de setembro) às seis horas da manhã. Cerca de 300 indígenas encontram-se mobilizados.
Fotos: João Payayá
“O cenário que estamos vivendo aqui é de guerra”, declara o cacique Shyrathan, presidente do Conselho de Caciques e Lideranças Pataxós de Santa Cruz de Cabrália (Extremo Sul da Bahia).
João Payayá, liderança da comunidade, fala que a ação foi motivada pelas agressões sofridas ontem (31 de agosto). E completa “a polícia que agrediu vários indígenas, inclusive o Cacique, derrubou oito edificações aqui na aldeia sem autorização judicial”.
“Foi um ataque aos Direitos Humanos, foi um ataque os direitos indigenistas, com a presença da Polícia Federal, da Polícia Militar, da Guarda Civil de Porto Seguro”
(João Payayá)
Após fecharem o trecho da BR 367, os indígenas realizaram ritual pedindo os encantados para guiar sua luta.
Fotos: João Payayá
Dra. Lethicia Reis, advogada do CIMI e uma das defensoras da comunidade, informa que ontem passaram o dia todo tentando apurar de quem foi a responsabilidade pela ação, mas nenhum dos órgãos contatados assumiu a responsabilidade. A advogada destaca o “peso simbólico” que a operação teve, em especial ocorrido às vésperas do julgamento do Marco Temporal pelo Supremo Tribunal Federal. Dra. Lethicia comenta que as lideranças comunicaram que quem foi responsável pela operação considerava que os Pataxós não estivessem mobilizados na área, para resistir, mas sim que eles estivessem em Brasília. E complementa que os indígenas relataram que consideraram que a “agressão física ao Cacique Roberto (foi) na verdade uma agressão interna da comunidade Pataxó de Ponta Grande. É um ato simbólico muito forte para a comunidade”, na medida que pegaram a sua principal liderança política e a agrediram sem nenhuma justificativa.
João Payayá comenta que hoje eles iriam participar da manifestação contra o marco temporal que está pautado para continuar o julgamento hoje (01 de setembro de 2021) no Supremo Tribunal Federal (STF). Mas que devido ao ocorrido ontem, a comunidade decidiu “ficar na base” e lá mesmo protestar “contra o marco temporal e contra a agressão que sofreram”.
Fotos: Thyara Pataxó
A reportagem reiterou solicitação de informações sobre a situação junto à Polícia Militar do Estado da Bahia, à Polícia Federal e a Prefeitura Municipal de Porto Seguro.
Apesar de ainda não haver respondido à solicitação de informações da reportagem, ontem no final do dia (31 de agosto de 2021), a ASCOM/ 8º BPM circulou nas redes sociais nota de esclarecimento, que pode ser lida no final da matéria.
A reportagem segue acompanhando a situação.
Para saber mais sobre a situação do Território Indígena Ponta Grande e o conflito, leiam:
URGENTE: Prefeitura de Porto Seguro derruba casas de indígenas
Terra em disputa: conflito fundiário contra Pataxós no Extremo Sul da Bahia reinflama neste inicio de setembro
Juiz Federal reitera determinação de reintegração de posse contra Pataxós, no extremo sul da Bahia
“NOTA DE ESCLARECIMENTO – 8° BPM
Na manhã desta terça-feira (31/08), prepostos da Prefeitura Municipal de Porto Seguro, em ação conjunta com a Polícia Federal, iniciaram um processo de derrubada de cabanas de praia construídas ilegalmente às margens da Rodovia BR-367, nas proximidades de Ponta Grande, no limite com o município de Santa Cruz Cabrália.
Diante disto, um grupo de manifestantes indígenas se apresentou no local, tentando impedir a ação dos citados órgãos públicos.
Sendo assim, a Polícia Militar foi acionada, através do 8° Batalhão, em caráter de apoio, visando conter os resistentes.
Após finalizado o ato, os manifestantes fizeram a obstrução da via, em retaliação pela derrubada dos imóveis.
As guarnições continuam no local, negociando a liberação da pista, contudo, sem êxito, até o momento. A FUNAI já foi acionada e está deslocando.
ASCOM/8° BPM”
Fonte: Jornalistas Livres