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Setenta e cinco porcento dos brasileiros consideram de extrema importância que gestores públicos e parlamentares desenvolvam políticas em prol da igualdade de gênero. O número foi divulgado em março pela ONU Mulheres em pesquisa inédita no Brasil feita com o Ibope. Segundo o relatório, mais de oito em cada dez mulheres acham que a participação igualitária no mercado de trabalho deve ser prioridade da agenda de legisladores.
Realizado no âmbito da “Agenda Cidades 50-50: Todas e todos pela igualdade” — iniciativa das Nações Unidas para promover políticas contra as disparidades de gênero a nível municipal —, o levantamento foi feito a partir de questionários sobre a igualdade entre homens e mulheres em três áreas: educação e cultura; mercado de trabalho; atuação em partidos políticos e governos.
Para a elaboração da pesquisa, o Ibope realizou, de 16 a 20 de fevereiro de 2017, 2.002 entrevistas com homens e mulheres de 16 anos ou mais em 143 municípios.
Para 77% dos entrevistados, são muito ou extremamente importantes as políticas públicas que incentivem as mesmas oportunidades de acesso a sistemas de ensino e serviços de cultura, bem como iguais estímulos ao desenvolvimento nas duas áreas.
Setenta e oito porcento consideraram muito ou extremamente importante que as prefeituras e câmaras municipais promovam políticas de participação igualitária no mercado, além de garantir que homens e mulheres recebem os mesmos salários pelo mesmo trabalho.
Quando questionados sobre a necessidade de incentivos à participação política, 69% dos entrevistados avaliaram também como de extrema relevância o envolvimento de prefeitos e vereadores na criação de medidas para assegurar iguais oportunidades de atuação das mulheres em partidos e governos.
Com os achados, o Ibope calculou que, no geral, três em cada quatro brasileiros julgam como prioritárias as políticas em defesa da igualdade de gênero.
Para a representante da ONU Mulheres no Brasil, Nadine Gasman, a pesquisa elaborada em parceria com o Ibope é um marco para a articulação entre a gestão municipal e questões de gênero.
“Passamos a ter dados sobre as percepções de brasileiras e brasileiros sobre as suas condições de vida no contexto das relações de gênero, assim como a indicação sobre o que deve ser feito por prefeitas e prefeitos em áreas fundamentais da vida de uma cidade, tais como trabalho, salário, educação e participação política, agregando as dimensões de raça e etnia às questões de gênero”, afirmou a dirigente por ocasião do lançamento do relatório.
A agência das Nações Unidas ressalta que o levantamento foi a primeira pesquisa de opinião a calcular um indicador da demanda por igualdade de gênero.
Mulheres tendem a cobrar mais igualdade que os homens
Os índices apresentados pela ONU Mulheres e pelo Ibope registram variações segundo o perfil dos entrevistado. De acordo com o estudo, 81% das mulheres consideram muito ou extremamente importante a igualdade no mercado de trabalho, enquanto 73% dos homens têm a mesma opinião. Os mesmos percentuais para os dois grupos foram encontrados quando avaliado o acesso à educação e à cultura.
A respeito da participação em governos e partidos, 72% do público feminino e 65% do público masculino julgaram ser de extrema relevância as políticas de incentivo ao envolvimento das mulheres na vida pública e em organismos representativos.
Ao aplicar um recorte por raça/cor, os números encontrados são semelhantes. Para 75% dos brancos e brancas, 74% dos negros e negras — incluindo-se aí pretos, pretas e pardos e pardas — e 78% das pessoas que se autodeclaram de outra raça/cor — amarelos, amarelas e indígenas, por exemplo —, o desenvolvimento de políticas pela igualdade de gênero é de elevada ou extrema importância.
“Com todas as desigualdades historicamente consolidadas para pessoas com diferentes condições de raça e etnia no Brasil, a pesquisa demonstra que prevalece uma alta e homogênea demanda por igualdade de gênero”, comenta a socióloga e especialista em pesquisa de opinião Fátima Pacheco Jordão.
Segundo a especialista, os números comprovam que a percepção da desigualdade de gênero no Brasil é generalizada. O fato de que três quartos da população querem prioridade para a igualdade entre homens e mulheres “reforça a necessidade de debater e propor políticas para tornar as cidades mais igualitárias especialmente para as mulheres negras, que sofrem mais os efeitos das discriminações”, acrescentou.
A ONU Mulheres avalia ainda que prefeitos e vereadores devem estar atentos às demandas das mulheres, que têm liderado manifestações de rua e ocupações de escolas e já representam mais da metade da força de trabalho no Brasil.