Iansã deusa do trovão não erra na previsão. O cacau desceu. Tem gosto de chá de mel com agrião.
A música está na essência da natureza. É anterior à humanidade. Os fenômenos naturais possuem partituras, instrumentos musicais e emitem sons diversos com maestria. O vento assobia e a chuva no telhado faz tec-tec-tec-tec…
O barulho compassado dos trovões é antecipado pela dança alegre dos raios e coriscos, no Planalto Central.
Meus ouvidos se dividem entre a audição de Chico Buarque e os sons da chuva no telhado de zinco, do apartamento do 3° andar. Chico canta Bárbara. Devaneio. Filmo mentalmente. Imagino a beleza épica e bárbara da chuva rolando aninhada nos braços dos moinhos de vento, com seu jeito mesclado de menina e mulher.
Quem não tem sensibilidade para ver, ouvir e dar passagem aos fenômenos naturais, possui uma vida seca. É destituída de vibração, energia, ternura e emoção. Paisagem árida, marrom e desfolhada. A existência é um eterno outono. Jamais irá florescer e primaverar.
Observe a chuva. Não faça nada. Apenas perceba os movimentos, os sons, as luzes, os apagões e as nuances da paisagem. Deixe a chuva escorrer no teu ser. Clorifique-se, esverdeie-se! Cante, dance e sorria para os ciclos da natureza.
Amo viver. Envelheço sentindo o prazer da juventude no meu coração. Estou em paz e pleno na simplicidade e capacidade de me emocionar com os movimentos da eterna mudança, ou o sorriso e o choro de uma criança.
Adrô de Xangô para a sua Iansã. Amorosa, forte e doce guerreira
Imagem: ciranda.net (Iansa)
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