Ninguém contava com o Covid para prefeito, vereador e cachaceiro

Uma sensação de que tudo acabou paira nas esquinas, botecos, paredões e caixas de som soteropolitanos, pelo menos é o que vejo aqui em Itapuã, onde meses atrás o dia de domingo parecia o cemitério do Campo Santo. Nada lembrava a agonia do corre-corre, garrafas quebradas, partido-alto, arrocha e outras pegadas românticas saídas de um teclado, pelvicamente convidativas para outras ‘‘marés’ lá nos hotéis da ladeira do Abaeté.

Assim era Itapuã, quer dizer, assim voltou ‘‘dicumforça’’ a boa e velha ‘‘pedra que ronca’’. Aquela mistura de isopor com barracas arrumadinhas, um povo aglomerado andando para lá e para cá, comendo acarajé, coxinha, espetinho ‘‘miau’’, se roçando, sambando e feliz naquele pequeno circuito de carnaval. E o Covid? Virou parceiro de copo, só pode… É a conclusão que eu chego, incrédulo com a coragem, o cansaço ou o descaso das pessoas. Dê um desconto, todo mundo tá estressado.

Peço misericórdia e proteção a Omolu para todos ali, e para mim também.

Quem figura nesta babel musical, pélvica, gastronômica é o povão que esta na luta, que todo dia pega coletivo e aprendeu a não ter medo do vírus, porque não tem alternativa. Ficar em casa não é opção, às vezes falta água e comida também, o jeito é sair no meio do fogo cruzado, acender uma vela e comer ‘‘mingau de cachorro’’.

No meio disso tudo, quem estava intocado nos seus condomínios resolveu descer para as baixadas, entrar nos becos das comunidades para garantir a boquinha dos quatro anos. Não tem jeito, em um mês de campanha efetiva o pessoal vai ter que se reinventar, e quem souber dialogar com a peça que a Covid plantou nos candidatos, vai ter sucesso.

No reino do dendê, quem é amigo do rei, asfalta rua, pinta meio fio, faz ‘‘miséria’’, ou seja, compensa com um asfalto sonrisal o que deveria ter brigado e lutado ao longo dos quatro anos. Mas fique atento povo preto! Os forasteiros filhos dos paulinhos, toninhos, aladinzinhos…, voltam para ocupar os postos que foram dos seus pais e avôs.

E quando tomaremos estes espaços?

O branco que te paga cerveja no dia do ‘‘baba’’ de domingo, vale bem menos que o homem ou mulher preta de sua comunidade, que sem dinheiro, indicações de consulta médica, asfalto, saem candidatxs para fazer de lá um espelho onde você possa se enxergar.

imagem: praia360

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