Esta coluna traz reflexões acerca do último jogo da Política Educacional Brasileira: o lançamento da Política Nacional de Educação Especial (PNEE) para reforçar os sistemas de ensino e garantir o atendimento de estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação.
Após o Ministro deixar claro como irá atuar no nível da Educação Básica, a partir da “deszumbificação” dos estudantes”, ele agora consolida a ideologia do governo, a partir do discurso de “liberdade individual e de escolha” para o atendimento especializado.
Para quem achava que mudando o jogador iria melhorar o jogo para o time da Educação Pública Brasileira vamos listar algumas estratégias do governo: Ministro da Educação pastor presbiteriano; assessora do ministro defensora de princípios bíblicos no ensino, escola cívico militares, “programa doação de livros”, revisões históricas e de gênero nos livros didáticos; “deszumbificação dos estudantes”; “Programa Futura-se”; desrespeito ao resultado das eleições para reitores; universidade para poucos”; “cristofobia” etc.
E alguém ainda pode dizer que não existe projeto para a Educação?
O fato de não explicitarem o projeto para a Educação, seja durante a campanha ou durante o governo, não significa que não o tenha. Um time não precisa declarar ao adversário como irá jogar para poder participar ou ganhar um campeonato! As estratégias podem ser utilizadas aos poucos e no decorrer de cada partida.
Assim como, no Ministério da Educação, as ações e estratégias podem ser reveladas no campo, na quadra, em comemorações, lançamentos de campeonatos etc. E essa tática desde o início tem servido para atingir o objetivo maior que é o de atacar e derrotar a Educação Pública Brasileira a partir de uma ideologia excludente.
Em relação a PNEE, lançada em 30 de setembro, segundo o jogador principal, um dos “principais norteadores dessa política nacional é a valorização das singularidades e dos direitos dos estudantes e das famílias no processo de decisão sobre as alternativas mais adequadas para o atendimento educacional especializado”.
Mas o que ele realmente quer dizer com isso? O que está por traz da possibilidade do atendimento de 1,3 milhões de estudantes em “escolas comuns inclusivas”, “escolas especiais” e “escolas bilíngues de surdos”? Os entes federados farão parte da PNEE por adesão, mas como? Por exemplo: e se um município optar em ter exclusivamente “escolas especiais”? E se o estado optar em ter apenas “escolas comuns inclusivas”? Vamos fazendo hipóteses no campo da organização dos sistemas de ensino e vejam como o discurso da “liberdade individual e de escolha” vai por água abaixo… E olhe que nem entramos na questão de inclusão, segregação, preconceito etc.
Em relação aos fundamentos da PNEE, alguns vão dizer que os jogadores do time ministério não ouviram os especialistas que defendem a inclusão e, que essa política, possibilita práticas dos anos 1970 e 1980 abrindo espaço, ainda maior, para a segregação e, consequente, manutenção de uma sociedade preconceituosa.
Outros vão dizer que eles escutaram os especialistas da área que ‘pensam’ igual ao governo. Outros ainda vão dizer que eles não escutaram nenhum especialista, mesmo porque, isso é desnecessário tendo em vista que as ações estão sob o manto da ‘técnica e neutralidade’, da ‘moralidade’ e dos ‘bons costumes’, da ‘religião’, com o ‘mantra da eficiência empresarial’, ‘meritocracia’, ‘liberdade individual’ etc., para atender aos anseios dos ‘cidadãos de bem’! E é óbvio, que esses vão dizer que isso não faz parte de um sistema de ideias! Ou seja, não é ideologia…
Não vamos nos enganar! Para um time vencer cada jogador deve ser convocado e colocado estrategicamente! As vezes um jogador irá defender ou atacar! E muitas vezes, pelo fato do jogador já está marcado, o técnico atuará com outras estratégias, utilizando jogadores que aparentemente não estão servindo ou jogando nada. Não é à toa que a PNEE foi acordada com o importante Ministério da Mulher, da Família e Direito Humanos, cuja ações têm sido classificadas pelos times adversários como “insanas”.
E, por menos apreço que tenho a esse governo, mas como analista de políticas, tenho que reconhecer que os jogadores importantes foram escolhidos a dedo para implementarem as políticas com a ideologia excludente que o fundamenta.
Cada time irá utilizar as informações e argumentos que mais coadunam com sua ideologia, assim como, em um jogo coletivo, cada técnico irá utilizar determinadas informações para escalar o time e, assim, a traçar suas estratégias e vice versa!
Esperar que o governo “dos gurus”, “da terra plana”, “das flores”, “das goiabeiras” etc., irá dialogar com especialistas que são contra a sua ideologia para elaborar uma política, é o mesmo que esperar que um time ouça as orientações do adversário! Isso é no mínimo muito ingênuo e não corresponde ao jogo político!
Sim! A ideologia do governo é excludente!
Sim! O governo tem projeto!
Sim! As políticas são coerentes com o projeto!
Sim ! O Ministério da Educação tem ‘estratégias’ para a Educação!
imagem: Cazo
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