Li excelente texto de Gregorio Duvivier, na Folha de S.Paulo desta terça (19), em que o autor elenca o quanto o presidente Bolsonaro poderia ter se beneficiado politicamente e humanamente (ah esse meu otimismo atávico…) se tivesse optado por seguir medidas sensatas no combate à pandemia no país.
“Bastava não ser você. Tinha uma corrida de cavalos, e você apostou todas as nossas fichas no jumento”, diz Gregorio no texto, referindo-se à estratégia de Bolsonaro de seguir os passos tortos da sua cadente estrela-guia Donald Trump.
“Era só confiar na ciência. Só. Era só escutar os cientistas — e não o Olavo de Carvalho”, prossegue Duvivier.
“Você teve tempo de planejar. Era só ter imitado o que já estava dando certo lá fora. Era só copiar”.
Yes! Eureka! Bingo! Show de bola!
A “tábua” de bons mandamentos de Gregorio seria perfeita se estivéssemos tratando de outro destinatário.
O jogo do Jair é outro.
Jairzão não atua no campo do bom senso, da inteligência, do pensamento estratégico, do planejamento, do projeto de nação.
Não há, nem nunca haverá, a menor chance para ele em campeonato de pontos corridos, conquistados dia a dia com o suor do bom combate.
Jair-ruim-de-bola não joga este jogo, pois sabe que estará fadado a ser derrotado por sete a zero (“Aqui, o nada é positivamente um exagero”, cochicharia o poeta José Paulo Paes).
Passe de Gérson? Gol de placa? Calcanhar “Socrático”? Esquece. O espaço de atuação do perna de pau inquilino do Palácio do Planalto não é esse. Jairzão foi escalado exatamente por ser ruim de bola. E da bola.
Com Jairzão em campo é dedo no olho, mordida, beliscão, carrinho pelas costas, chute nas canelas e nos cantos mais sensíveis também.
Jair, o terrível, só chegou onde chegou pelo esdrúxulo, pelo bizarro, pelo escatológico. Não sabe, não quer saber e tem raiva de quem sabe ter “fair play” (isso é coisa de marica, taóquei?).
Jairzão jamais sairá do divertido e descomprometido futebol de várzea, do chutão pro alto, do poeirão que cega o adversário e inebria a plateia insandecida da arena política brasileira.
“Era tão fácil evitar um genocídio. Bastava nascer de novo, com o coração no lugar”, arremata Gregorio.
Yes! Eureka! Bingo!
“Comigo não existe problemática, só existe solucionática”, dizia o espirituoso Dadá Maravilha.
No mundo sem sutileza e nenhuma espiritualidade de Jairzão, a problemática é a solucionática da sua sobrevivência. Essa é a jogada.
O autor é beletrista de antanho, influenciador analógico e jogador de bolinha de gude.
Imagem: Duke
- Confira todas as colunas: