Inkisses, Orixás e Voduns, mudei de idéia… Há de ser severa e sem pena!

Imagem: Ribs

Tela preta, cabula da nação Angola e um “Jesus’’ neopentencostal, são ingredientes da hipocrisia made in Miami, na #blackouttuesday, entre tantas firulas racistas desta semana. ‘’Venho de uma cidade cheia de ritmo’’, como cantava Márcia Freire na década de 1990, cujos toques do Candomblé deu régua, compasso e sucesso para muita gente na Bahia.

Povo que tem o cabula na base do seu samba de roda, mas não pode se referir a palavras como Orixás, Yemanjá, Candomblé nas letras de músicas porque são coisas do diabo, porém postam “Black Lives Matter’’.

Gabi Guedes, Ogan Alagbé e percussionista, fala no documentário ‘‘Orin: Música Para os Orixás’’, sobre artistas que o convidaram para gravar nos respectivos álbuns e pediam para não tocar ritmos do Candomblé nas gravações das músicas. “Ok”, respondia o mestre, e em seguida, “atendendo” o pedido, mostrava o arranjo percussivo saído do Axé, com a identidade camuflada, mas festejada pelo racista por toda cor, força e brilho que os nossos toques ancestrais possuem.

Ser intolerante com a religião de matriz africana, depreciar a cultura do povo preto, ou pior, se apropriar desta cultura, enriquecer e negar sua identidade te faz tão assassino como aqueles que fisicamente eliminam nosso povo, ou como os traficantes de Cristo que invadem os terreiros, expulsando ialorixás, babalorixás e seus filhos de santo das comunidades.

Saiba que a vida é um fluxo espiritual, não é só o funcionamento orgânico de um corpo. Reprimir e aniquilar formas de pensar e ser no mundo é outro lado da moeda do processo genocida, que podemos chamar de epistemicídio. Professor Abdias do Nascimento, na obra ‘‘O Quilombismo’’ e Sueli Carneiro em sua tese doutoral, discutem as formas da branquitude tem de deslegitimar outras possibilidades de conhecimento que não seja a eurocêntrica, em específico as oriundas dos povos africanos e tradicionais. Isso ocorre quando ‘‘demonizam’’ as religiões não cristãs – ver o documentário ‘‘Ex-pajé” – desqualificam nossa epistemologia e invisibilizam intelectuais e referências negras e indígenas.

Portanto, vidas negras, quilombolas, indígenas importam. Não querem só estar vivos, querem viver. Tal se expressa no desabafo de Valdelice Veron da Nação Kaiwoa Guarani, no documentário “Indio Cidadão’’.

As mortes de seu Antônio Corrêa da comunidade Quilombola do Barroso, do líder indígena Zezico Rodrigues Guajajara, e tantos outros que se foram no ano de 2020, importam! E por que só o lamento?

Se tais vidas importam, como um sujeito que desumaniza quilombolas no discurso realizado na Hebraica do Rio de Janeiro é eleito presidente? Por que um Ministro da Educação continua no cargo após proferir que odeia o termo ‘‘povos indígenas’’? Por que um sujeito como Sérgio Camargo que promove um escárnio sobre memória do povo negro segue na condução da Fundação Palmares?

Segundo Emicida ‘‘…a gente só aceita debater o racismo quando ele é pautado pelos Estados Unidos’’. Parceiro… é bem controverso, porque tem muita gente no “corre”, desde lá atrás, e eu sei que incomoda, e muito, as mortes, o deboche diário institucionais, público e privado sobre o povo preto e tradicional, como também a nossa reação.

Entrego a Tempo toda essa gente. Não sou cristão, portanto não creio nas criações do cristianismo, o diabo e o inferno, e nem tenho a obrigação moral de perdoar. Só recomendo a eles a lição dos Caboclos: ‘‘Lá na mata, lá na Jurema, é uma lei severa, é uma lei sem pena…’’.

Há de ser severa e sem pena!

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