Impressões de uma ativista nos primeiros dois dias da Semana do Clima

Quatro quilômetros da avenida Paralela – uma das principais vias de Salvador, ligação com o aeroporto da cidade e onde está localizado o evento – foram pintados e recapeados nos últimos 15 dias especialmente para o encontro do clima.

Para maquear aos organizações e delegações estrangeiras que Salvador é um lugar sustentável. Não acreditei!

Dentro do Salão Central

No salão central , pouquíssimos estrangeiros na parte da manhã. Reparei nisso, então perguntei aos recepcionistas. Vi uma média de 30 pessoas, tanto de manhã, quando de tarde. Muitas cadeiras vazias. Identifiquei poucos estrangeiros participando e escutando, com o fone de ouvido nas suas línguas, o que os brasileiros e brasileiras do meio ambiente, cientistas, especialistas, ambientalistas importantes que foram convidados para debates têm a dizer.

Nada, nenhum intercâmbio com a gente.

No painel sobre Salvador

No painel sobre Salvador que aconteceu na tarde segunda-feira (19/08), havia uma mestre de cerimônias, um mediador e quatro pessoas sentadas. Professores da UFBA fizeram exposições muito incríveis, pertinentes. Mas quando eles acabaram de falar. O painel foi encerrado. Perguntei: não vai abrir para perguntas? A resposta foi: não, não abrimos. Em seguida, entrou outro professor da UFBA, com gráficos, expondo o crescimento populacional, mostrando que não era tão simples entender, que era complexo. Também, ninguém pôde perguntar, nem interagir.

Para encerrar o dia, crianças de uma escola da Prefeitura de Salvador foram trazidas para apontar às futuras gerações ações e práticas de sustentabilidade. Tudo havia sido montado e organizado de forma plástica ou poderia dizer cenarizada. Acho que um pouco inspirado nas ações do Instituto Ayrton Senna ou Planeta Xuxa.

As pessoas que lá estavam e tinham reinvindicações foram silenciadas. Elas precisaram dizer quatro vezes para a mediadora que tinham um abaixo assinado e que gostariam de passar para plateia para que fosse assinado. A mediadora inicialmente ignorou o pedido de comunicar o abaixo-assinado, apenas com a insistência foi possível divulga-lo.

Crianças manobradas pra estampar uma ficção, platéia silenciada. Fiquei perplexa.

Espaço de Alimentação e Action Hub

No espaço de alimentação vegana (idéia super legal!). Uma tapioca R$16,00, uma coxinha de jaca R$12,00. Não questiono o custo que existe para fazer coisas artesanais e legais, não é essa a questão.Preços de aeroporto em dólar pro bolso dos organismos oficiais.

Action Hub

No cantinho direito deste espaço de alimentação, onde estavam expositores regionais de artesanato, redes, iniciativas de produção de alimentos sustentáveis naturais e orgânicos e saudáveis e coisas feitas a partir de fruto e riquezas locais, inovativas de cooperativas lindamente longamente e arduamente conquistadas, está o Action Hub. Ele foi instalado num canto montado como um estúdio de televisão, com uma câmera, um lugar para sentar e uma pessoa atrás da câmera. Isso é que era o Action Hub? Fiquei paralisada.

Eu fiquei ali, absolutamente descrente do que assistia.

O Action Hub devia ser um momento de vitalidade, de interação de ideias, de trocas, de .intensidades, é um cantinho para gravar um registro para quem fez o evento dispor disso para o fim que desejar posteriormente.

Repercussão

Conversei com algumas pessoas de ONGs nacionais e internacionais que lá estavam neste primeiro dia de evento, querendo saber o que estavam achando. Elas estavam “passadas” achando aquilo horrível, algumas perdidas, outras checando em suas listas o que podia estar ocorrendo em algum canto aberto, já que auele foi anunciado ser fechado, para poder ir.

Divulguei que na 4ª feira (21/8) terá a atividade paralela do tribunal popular das mudanças climáticas no Pelourinho. Todos se animaram e disseram que iriam compartilhar nas suas redes.

Minhas impressões dos dois dias: um dos mediadores me disse que o espaço era tão grande que poderia estar tudo ocorrendo ali junto. Ele comentou que teve que cancelar sua participação na Alba (Assembleia Legislativa da Bahia) em seguida, pois estava sem condições de poder chegar, já que cidade está um canteiro de obras aberto intransitável.

Tal informação confirmou ainda mais minha compreensão de que as atividades estão desenhadas como se fôssemos um terminal cego, uma ação na nação periférica no sistema. A discussão acontece a portas fechadas com um certo número pessoas dos organismos oficiais. Não está em pauta dizer o que é importante ou interessante. É o trabalho deles.

É a medida esquizofrênica e estrambólica que nos informa a distância mantida, inacessibilidade e falta total de participação aberta e dialogo.

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