Imagem: Alirezapakdel
Sim, profissionais de saúde juram salvar vidas. É um sacrifício nobre, doar sua vida pelos outros como estão fazendo. Queremo-los vivos. Precisamos deles. As famílias, amigos também precisam de seus rostos, sorrisos e afetos.
Outras vidas, as não brancas, já nascem sacrificadas ou destinadas a tal, em razão da sua cor. E nisso não há nada de nobre. Aliás contraria a universalidade dos Direitos Humanos, que não permite distinção entre pessoas, tal como se fez no regime nazista alemão, no apartheid sul-africano e se faz no sistema prisional brasileiro.
Muitos custodiados já são destinados a morrer antes de mesmo de nascer com vida. E há diversas formas de matar a população preta e indígena. Mas resistimos e aqui estamos. Tantos nós confinados em casa. Como aqueles esquecidos nas instituições punitivas. Não merecemos morrer cumprindo uma pena que direta ou indiretamente não demos causa a sua execução.
Por fim, uma identidade se mantém em ambos o sistema de confinamento: a seletividade racial e socioeconômica de quem deve suporta o maior peso da punição. Seja pela privação de liberdade do isolamento social em condições de miserabilidade; seja pela morte com toda a sorte de indignidades.
Isto é, não é sofrido e difícil estar isolado em uma “alphaville branca”, como é na favela preta. Ou ainda morrer na UTI da rede privada com todos os recursos, em que o de cujus ‘‘parte dessa para uma melhor’’ com toda a dignidade. Mas o mesmo não se pode falar de quem morre sentado na cadeira de uma UPA superlotada, a espera de uma simples maca.
- Confira todas as colunas: