Imagem: Vinicius Oliveira
A “normalidade” nunca quis vencer a fome. O sistema produz mais alimentos que esfomeados há muitas décadas. Mas a fome valoriza o preço do alimento, enquanto desvaloriza o agricultor que realmente trabalha com a terra. Assim como o desemprego desvaloriza o salário do emprego, ao enobrecer quem está empregado. Que, sim, ainda é melhor do que estar desempregado. O Agro é FOME. E pop é saber esconder bem a fome com commodities.
A cicatriz da fome ainda está nítida. Marcou famílias, gerações e comunidades que irão enfrentar filas, ônibus lotado, aglomerações apenas por uma informação de mais um compromisso de salvamento mínimo do governo. Que, por sua parte, joga com suas palavras dúbias e tecnologias ineficientes para organizar exatamente aquilo que a “normalidade” do seu sistema capitalista sempre executou: a morte dos pobres ser normal para o progresso da “pátria”. A ORDEM é fome, o PIB é FOME. O
Desenvolvimento sempre às custas da FOME.
A fome é uma cicatriz colonial. Ela marca porque ela também mata quem sobrevive. Porque ela nos desumaniza antes de nos levar. A fome também é moderna e pós-moderna. Entre arriscar-se a morrer de fome ou de uma doença nova, no qual o presidente genocida faz questão de minimizar e espalhar fake news que chegam massivamente nos grupos familiares e religiosos, muitos irão preferir lutar contra o Coronavírus. Os que estão na fila também estão com medo, mas estão ali porque têm esse medo maior: a fome.
A fome não deveria sequer ser um risco, quanto mais ser normal.