Coletivo de jovens negrxs atua com segurança alimentar, negócios digitais e nova economia na Bahia

Que aprendizados trazem as experiências das organizações da sociedade civil para o enfrentamento das crises humanitárias e para a sinalização de caminhos e políticas possíveis de combate à fome, de abastecimento alimentar na luta pela Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional, e do Direito Humano à Alimentação Adequada?

Essa foi a pergunta endereçada ao coletivo de jovens negrxs, da Bahia, durante a oficina virtual “Enfrentar a fome com a força de nossas lutas: solidariedade e resistência”, realizada no dia 12 de agosto pela Comissão Organizadora da Conferência Popular, Democrática e Autônoma de Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional.

O coletivo está organizado como uma incubadora tecnológica e social chamada Azeviche, desde fevereiro de 2020. O nome faz referência a um mineral de cor negra, conhecido como âmbar negro, usado como amuleto de proteção. É formada por ex-alunos do curso Conexão Diversidade Racial, realizado pela Faculdade Zumbi dos Palmares e pelo Instituto de Educação da Federação Brasileira de Bancos (FEBRABAN). O intuito do curso é levar maior diversidade racial, de gênero e orientação sexual ao setor bancário.

“Iniciamos o projeto pensando em democratizar o conhecimento que tivemos acesso no curso e somar forças para desenvolver potencialidades de fala e impulsionar nossos planos de negócios de forma coletiva”, conta Romário, de 26 anos, gestor comercial e membro da Incubadora.

A equipe é formada por 7 pessoas, incluindo o Romário. São elas: Caíque Abade, estudante de história e educador; Camila Nunes, designer de moda; Viviane Casais, engenheira ambiental; Marcus Ferreira, estudante de direito e contabilidade; Tauan Carvalho, produtor cultural e o Fleidson Silva, estudante de Relações Internacionais. Além dos alunos nós temos quatro professores que são conselheiros e três consultores que prestam ajuda esporadicamente.

A Azeviche trabalha nas frentes de segurança alimentar, negócios digitais e nova economia. A proposta é fomentar soluções tecnológicas para movimentar a economia local, auxiliar pequenos negócios e projetos inovadores da região metropolitana de Salvador. “Nossa visão de futuro é criar e apostar coletivamente na capacidade ancestral da população negra em se reinventar”, afirma Romário.

À medida que a pandemia de Covid-19 se alastrou, principalmente nas comunidades pretas e periféricas da região metropolitana de Salvador, o coletivo percebeu a necessidade de mobilizar parceiros da Agricultura Familiar para fornecer cestas de alimentos, materiais de higiene e proteção. Também participou de editais de auxílio emergencial para promover ações de combate à insegurança alimentar.

A incubadora centralizou esforços para garantir a segurança alimentar, a digitalização de pequenos negócios e a criação de um espaço para fomentar discussões. Dessa forma, buscou soluções para lidar com o alto índice de desemprego pós-pandemia e a nova configuração de economia para periferias das regiões metropolitanas de Salvador. Os encontros acontecem virtualmente, às quartas-feiras.

Novos negócios com base em igualdade racial, de gênero e orientação sexual

Entre os questionamentos que instigam esses jovens estão a compreensão da mudança de comportamento devido à experiência pandêmica e quais os setores terão que se reformular ou até reduzir sua base de produção. O coletivo cria espaço para buscar soluções que movimente a economia local, promovendo o desenvolvimento de novos negócios para o mundo pós pandemia.

Estamos construindo iniciativas para ajudar, a princípio, pessoas que trabalham no comércio informal através do desenvolvimento de uma vitrine virtual para exposição de do catálogo de produtos”, conta Romário. O coletivo também busca conectar investidores a projetos de impacto social e desenvolver um hub para microempreendedores direcionado a igualdade racial, de gênero e orientação sexual.

Três projetos estão sendo incubados no momento. O Fab Lab, do Tauan Carvalho, voltado para a área de moda; uma plataforma EAD para auxiliar pequenas escolas a realizar aulas à distância, idealizada pelo Romário e, em conjunto com pequenos agricultores, está sendo desenvolvida uma plataforma para facilitar o escoamento da produção de alimentos e interligar os produtores do campo aos moradores das cidades reduzindo o número de intermediários.

“Temos o intuito de fazer visitas às famílias agricultoras para escutar, entender as dificuldades e pensar em como pudemos usar a tecnologia para ajudar”, explica Romário.

No mês de julho, a incubadora distribuiu 3,5 toneladas de alimentos e itens de limpeza. Edgar Moura, membro da comissão organizadora da Conferência, é um dos conselheiros da Azeviche e um dos coordenadores dessa ação. Os alimentos são distribuídos para pessoas de territórios de terreiros, coletivos de cultura de rua, algumas comunidades quilombolas, alguns bairros de Salvador e cidades vizinhas como Camaçari e Dias D’Ávila. A estratégia de distribuição de alimentos passa pela construção de conexão com lideranças locais.

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Imagem: Distribuição de alimentos com apoio da Ação da Cidadania/Cooperativa Azeviche

Dentre as parcerias estabelecidas neste período, a Azeviche conta com o Instituto Ser+, o Fundo Baobá para equidade Racial, o Fundo Brasil, o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), os Agentes de pastoral Negros do Brasil (os APNS do Brasil), a Ação da Cidadania e o Coletivo de Mulheres Negras Abayomi também.

Algo que seria quase impossível individualmente, se tornou possível quando nos organizamos enquanto grupo e quando reconhecemos nossas fragilidades e nos complementamos”, afirma Romário. Como aprendizado desse período, o gestor comercial reconhece a união como a maior potência para enfrentar os desafios da pandemia.

Para conhecer mais sobre o coletivo, acesse o Instagram ou o site da Cooperativa Azeviche

Fonte: Conferência Popular por Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional

Imagens: Cooperativa Azeviche

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