Imagem: cartaz do filme A Negação do Brasil, de Joel Zito Araújo
Representante da Associação Brasileira de Cineastas, Joel Zito Araújo pediu atenção da Conferência Regional das Américas para o papel desempenhado pela mídia na destruição ou reconstrução das identidades indígenas e afro-brasileiras. Entre os grandes meios, a televisão deveria merecer uma intervenção especial da conferência, disse Joel.
A idéia de que formaram-se no continente nações mestiças – e que como povos híbridos teríamos superado o problema racial – foi consolidada juntamente com o advento do rádio, nos anos 20, do cinema, nos anos 30, e da televisão nos anos 60, como meios de difusão de massa.
A expansão dessas mídias contribuiu para a antipatia contra grupos que reivindicavam suas identidades negras e indígenas. Principalmente o audio-visual enfatizou o branco como modelo estético favorito e adotou a ideologia do branqueamento que ja tinha sido política de estado.
O padrão escolhido propagou que o mais belo é o branco nórdico, gerando distorçao e supervalorização de eurodescendentes, e associando índios e negros à subalternidade, violência, sujeira, ao feio, e muitas vezes ao mal. “Os brancos ficam com representação distorcida de si mesmos, supervalorizados”
Nada contra o orgulho branco de ser branco, lembrou Joel Zito. “Mas não podemos aceitar uma raça única como representação do humano e da beleza”. A pluralidade racial deveria ser motivo de orgulho pra todos nós
Joel Zito pediu mais que análises do papel negativo da midia, mas recursos financeiros para
apoiar todos aqueles, índios e negros, que desenvolvem projetos de cinema.
O cineasta lembrou que o projeto de Estatuto de Igualdade Racial que tramita pelo Congresso, estabelecendo um mínimo de 20 por cento de negros na televisão, está sendo motivo de um feroz debate, com participação das grandes mídias como a Globo e Folha de São Paulo, e de intelectuais e artistas brancos que assinaram um manifesto raivoso contra o Estatuto.
Enfrentar essas campanhas não é fácil, segundo Joel Zito. E se nao houver recurso financeiro, será como “chover no molhado ou dar murro em ponta de faca”.