Ouvia anteontem numa dessas ‘‘lives’’ das encruzilhadas digitais, um irmão de Axé, Marcos Rezende, contar uma história sobre Oxum, Exu e Xangô. Aí ele de repente se empolga e nos brinda com outro lindo conto.
Quanta riqueza e luxo as lendas e contos do Candomblé possuem, é de se embriagar e ficar pensando nas tramas, nobrezas e torpezas dos Orixás. Relacionar com as nossas, em meio às disputas do nosso micro panteão.
Cada vez mais eu me apaixono e aprendo com Oxum a transpor as barreiras e as rudezas que aparecem, ou ainda a ‘‘tirar pelos cantos’’ como se diz nas cadeias da Bahia. Às vezes não é preciso alterar minhas veias coléricas, só esperar…
Não é que ela tem razão?
Uma rainha que venceu uma guerra contra o forte exército do rei Agbaraiê, com cânticos e oferendas feitas por seu auxiliar Omilaré às divindades, sobretudo, à Exu, conhece muito dos ‘‘paranauê’’.
Assediada por Xangô, contava Marcos Rezende, Oxum se transforma em rio para fugir dele, e aquela divindade em pedra, tentando impedir a passagem de Dandalunda. Contudo, ela, como rio de água doce, contorna pelos lados e consegue desviar, seguindo seu caminho.
Não enfrentou a rudeza da rocha, não bateu de frente, mas ensinou que não há pedregulho que resista a plasticidade das águas, tais não se deixam apanhar e aos poucos mina a aparente instransponível barreira.
Não há como conter o poder das águas, elas sempre virão trazer fecundidade, alívio e revolução nos ásperos e hostis cenários.
Semelhante é a lenda de Yemanjá que em fuga do seu marido Okere, rei de Xaki, deixa cair no chão uma porção mágica de uma garrafa, dada por sua mãe Olokun, de onde brota um rio que leva Yemanjá para o oceano. Contrariado, Okere transforma-se em uma colina para impedir a fuga, mas Xangô lança um raio que racha a colina e permiti a passagem de Yemanjá.
Nada pode ser retido. A liberdade é uma conquista que vem pela violência dos raios da justiça ou pelas curvas suaves que as águas cavam no intermitente caminho.
Imagem: Ponto Crítico, montagem ciranda.net
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