Novembro é o mês da Consciência Negra. O que significa realmente este período com relação às questões raciais?
Primeiro é necessário dizer que o enfrentamento encampado pela luta antirracista, não se resume a um período do ano, mas é ininterrupto, até por que as práticas racistas não tiram férias, tampouco respeitam algum tipo de trégua, haja vista a morte do João Alberto e outros casos de violência racial que não ‘‘viralizaram’’.
Além disso, o movimento negro, seus militantes e os brancos aliados, estão o tempo todo na luta contra o racismo estrutural, não se dão folgam para reaparecerem somente no mês de novembro.
Consciência Negra, sua celebração, debate e reflexão, não se resume a apresentação clichês que racistas ‘‘bem-intencionados’’ fazem do samba, capoeira… com discurso de lugar comum de que precisamos ‘‘parar com isso cara gente branca’’, pois é um ‘‘absurdo o racismo ainda no século XXI’’, e pior é quando se auto-legitimam porta-vozes da população preta.
Necessário se faz incomodar e constranger as práticas racistas, inclusive no campo progressista.
Na antevéspera das eleições do segundo turno, em um dos grupos de colegas de trabalho, posto uma montagem que vi no perfil de uma colega preta, em que critica e questiona a ausência preta, sobretudo, na esquerda, para o executivo municipal, onde facilmente se identifica a ampla candidatura de pessoas brancas, de ponta a ponta, nos partidos neste segundo turno.
Fui lá e postei com o título ‘‘minha cara esquerda branca’’, e um dos colegas, que é branco, e se intitula progressista, responde com uma foto de um vereador preto eleito pelo PSOL, Jhonatan, o mais votado na história da concorrência municipal da cidade de Feira de Santana, e arremata com a seguinte frase: ‘‘Foi o vereador mais votado em Feira… Invés de ficar reclamando, ele arregaçou as mangas e foi para a luta…’’.
Na sequência um indivíduo branco, típico de defensor fanático da besta, eleitor de Bolsonaro, vem em apoio e escreve: ‘‘Isso mesmo fulano – nome omitido – não reclamou e trabalhou… meu respeito para esse homem’’.
O que faz com que um eleitor típico de Bolsonaro – daqueles que defendem cegamente as irracionalidades do seu líder, cloroquina, terra plana… – e um progressista branco convergirem para o mesmo ponto?
O racismo estrutural de ambos, pessoas brancas, que os levam a justificar a ausência preta nas candidaturas para o executivo, por conta do preto ou da preta não arregaçar ‘‘as mangas e [ir] foi para a luta…’’ – aquela história da meritocracia, em que só depende de você o sucesso – eles não buscam espaço, ao ‘‘invés [preferem]…ficar reclamando’’ o tal ‘‘mimimi’’.
Vilma Reis, para ser candidata pelo PT, por exemplo, faltou ela arregaçar as mangas, ou ainda, a própria Olívia Santana também para ser eleita, faltou se esforçar para ter amplo apoio da esquerda soteropolitana? Então, resume-se a ausência de candidaturas pretas no executivo para o pleito eleitoral, pela falta de esforço dos próprios atores… Surreal.
Nina Rodrigues já dizia que preto é preguiçoso, vai saber.
Enquanto continuamos ‘‘preguiçosos’’, perpetua-se um mosaico de pessoas brancas do campo progressista brasileiro.
Massa, mas até quando pessoas prestas serão lideranças de base para candidaturas brancas ou ocuparão escassas vagas na concorrência política?
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Enfim, chegamos ao final do mês de novembro, mas a militância segue em diversos campos. Nesse passo, eu saúdo meu Quilombo de pretos e pretas que tem me fortalecido e inspirado. Esta é a forma que aprendemos com a ancestralidade para o exercício da resistência do povo preto.
Quando passei a escrever sobre personalidades pretas neste mês, me remeti ao ano de 2006, quando em sala de aula, perguntei aos alunos do último ano do ensino médio, dez indicações de pessoas pretas nas diversas áreas. Percebi uma grande dificuldade dos discentes em tal atividade.
Trouxe a cor azeviche para página da ciranda em seus talentos.
Contudo, como disse, há outros pretos e pretas que me inspiram, meu Quilombo, e a eles eu dedico a linhas de hoje, porque são referencias do quotidiano, contrariam o sistema racista e notabilizam os valores e talentos do povo preto:
• Professor preto de Direito Humanos e Doutor Ilzver Matos
• Professor preta, Especialista em educação e Coordenadora Pedagógica, Roberta Evelyn
• Militante do Quilombo da Vila Guaxinim, Miriam Barros
• Professor preto de Direito Penal e Processo Penal e Mestre, Cristiano Lázaro
• Advogada preta e Militante, Jammê Freitas
• Professora preta, Mestra, Silvia Carla
• Professor preto e Doutor, Fernando Piedade
• Advogado, cantor e compositor preto, Leandro Fullmaça
• Professor preto, Dançarino e Mestre, Maurício Faísca
• Professor preto e Mestre, Lucas Campos
• Advogado preto, Superintendente e Doutor, Luis Antônio Nascimento
• Professor preto e Mestre, Natanael Conceição
• Professor preto, Mestre e Militante do Coletivo de Entidades Negras, Marcos Rezende
• Professor e Militante, Cristiano Pedreira
• Pesquisadora e Mestranda Roberta Nascimento
• Cantor e compositor preto, Djaluz
• Cantora preta, Nane Peruna
• Ogan Alagbé preto – Ton Sele
Tem muita gente preta quem seguem aquilombando as estratégias de vivência e sobrevivência, e como disse, inspiram e fortalecem.
Salve o povo preto!
Imagem: montagem Ciranda.net (Ilzver Matos, Roberta Evelyn, Miriam Barros, Cristiano Lázaro, Jammê Freitas, Silvia Carla, Fernando Conceição, Leandro Fullmaça, Maurício Faísca, Lucas Campos, Luis Antônio Nascimento – Secom Bahia, Natanael Conceição, Marcos Rezende, Cristiano Pedreira, Roberta Nascimento, Dja Luz,
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