Apreciando a trilogia 1Q84, de Haruki Murakami.

Nos seis meses de isolamento social a meditação, a leitura e a música têm sido companheiras inseparáveis nos momentos de lazer, prazer e encontro com a essência universal e infinita. A prosa e a poesia emanam como guardiãs do equilíbrio emocional. Preenchem o vazio cultural, social e alimentam a imaginação.

Li e reli duas pencas de livros desde março de 2020. Autores jovens, autores consagrados e clássicos da literatura. No campo da prosa Haruki Murakami é uma redescoberta fascinante, majestosa e suprema. A maior companhia nos últimos quatro meses. Até o momento degustei sete livros de Murakami. Sinto uma emoção inenarrável ao ler as novelas deste maravilhoso escritor japonês. Estou concluindo a leitura do último volume da trilogia 1Q84.

A trama tem uma linguagem cinematográfica. Recentementedei uma pausa para refletir sobre o diálogo entre a vítima e a algoz numa passagem em que há uma citação dos Irmãos Karamazov, de Fiodor Dostoiévski. É tão pungente, marcante e excitante que me incentivou a programar a releitura deste clássico da literatura russa e universal.

Na minha avaliação de leitor viciado em “drogas literárias”, Murakami é um dos melhores romancistas contemporâneos. Premiadíssimo no Japão e reconhecido pela crítica na Europa e Estados Unidos. Talvez não seja laureado com o Nobel de literatura. Philip Roth, também não o foi. Bob Dylan certamente não teve nem terá a envergadura literária desses dois monstros sagrados da literatura contemporânea Mas foi agraciado com o Nobel de literatura em 2016.

O que mais me fascina e arrebata na obra de Murakami é a mescla com a música, que ele executa com maestria na trama de romances e contos. Este japonês de 71 anos conhece profundamente e é apaixonado pela música, pelo cinema e pela mitologia – grega, romana e japonesa. Haruki Murakami e a esposa foram donos de um bar de jazz, em Tóquio. Passou uma temporada ensinando literatura na Universidade de Princeton, nos Estados Unidos.

São 1.240 páginas magnificamente escritas em três livros. O primeiro aborda a trama no período de abril a junho de 1Q84, ano mágico que ocorre – para alguns personagens – em paralelo ao ano de 1984, do calendário gregoriano. O segundo, trata do período de julho a setembro, e o terceiro culmina no período de outubro a dezembro.

Minha filha mais nova já leu a trilogia 1Q84. É uma homenagem explícita à 1984, de Orwell. No entanto, inexiste semelhança entre as obras. Débora não gostou do final do terceiro livro. Esperava mais e frustrou a expectativa. Tentarei não me deixar influenciar pela apreciação de uma leitora jovem, esperta e sagaz.

Entretanto, ao relacionar cada livro com a primavera, o verão e outono, talvez Haruki Murakami dê uma pista para os leitores mais experientes e argutos a respeito da energia, movimento e vitalidade da trama. Outono é a estação do ano em que as folhas caem, a temperatura esfria e as noites alongam. Na minha percepção forma e conteúdo estão alinhados na “magnum opus” do autor, assim como as duas luas que somente são vistas por Aomane e Tengo, personagens principais de 1Q84.

A conferir.

Imagem: Capa Livro 1Q84

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