Primeira viagem a dois arrulhando carícias e aconchegos como pombos apaixonados. Saíram cedo do sertão para o litoral nas dunas da divisa com o Rio Grande do Norte. Tudo era motivo para sorriso e brincadeira. Até mesmo quando Eros esvaziou os pneus para dirigir no terreno arenoso e, durante a travessia do rio pela balsa, empurrada por braços humanos. Liberaram as belas crianças apimentadas e arteiras.
A casa emprestada pelo amigo Paulo Fernando era simples, bonita e acolhedora. Possuía duas suítes, banheiro social, cozinha, sala de estar e jantar. Decorada com móveis artesanais e peças da região. Situava-se de frente para o nascente. Tinha quatro varandas amplas para suavizar o calor do verão. Que paisagem deslumbrante!
Paulo deixou instruções escritas a respeito do que e onde comprar pescado fresco, cervejas, sucos e frutas, localização de panelas e utensílios de mesa e cozinha, material de higiene e limpeza, etc. Joana, a senhora que tomava conta da casa, ia duas vezes por semana para fazer a faxina.
Sugeriu que almoçassem no Cantinho da Jussara, a melhor cozinheira da Praia do Guaju. Recomendou os espetinhos de lagosta na brasa com molho mágico da casa, escoltados por cerveja bem gelada. Comida e bebida da melhor qualidade respirando o ar puro, sentindo o cheiro e ouvindo o vai e vem da sinfonia frenética das ondas do mar. No cenário singular da Paraíba, degustariam o verdadeiro manjar dos deuses e caboclos sertanejos.
Recomendou, ainda, que se deslocassem a pé. Pedissem a Joana dicas sobre os segredos dos tesouros da região guardados pelos nativos, de geração a geração. Usariam o jipe 4×4 apenas para ir as dunas descer de “skibunda”e tirolesa caindo para o mergulho na lagoa escura.
Na varanda, Eros e Artê iniciaram o balé de carícias deitados na rede, contemplando a lua cheia. Ao longe ouviam as cantigas da maré vazante. Seus corpos se mesclaram. Suaram e se fundiram em labaredas de orgasmos. O prazer trouxe tanto o sono profundo quanto os sonhos difusos.
Acordaram nutridos pelo incandescente sol da manhã e o canto dos pássaros em revoada. Sem trocar uma palavra, compreenderam, simultaneamente, que desfrutariam juntos o último ciclo onírico de fantasias, desejos, projetos, viagens e realizações. Estavam amalgamados pela infinitude do amor…
Foram à cozinha e prepararam o café da manhã. Eros tomou Artê nos braços, encarou os seus olhos verdes e, em voz alta, indagou: quer casar comigo? Artê não hesitou. Imediatamente substantivou o sim. Explodiram em alegria como se fossem a chuva de fogos na virada do ano, em Copacabana. Beijaram-se, abraçaram-se e dançaram de olhos fechados a valsa Vozes da Primavera, de Johann Strauss…
Adrô de Xangô
8/9/2020.
Imagem: banco de imagens da Praia do Guaju
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