A paixão de Afrodite e Eros na pós-modernidade pandêmica

Eros, professor de artes plásticas aposentado pela Universidade Federal da Paraíba, foi casado com Psique por 39 anos, até que a magnífica esposa desencarnou na primavera de 2015.

Desde então, Eros fez votos de celibato: dedicou-se a viver da arte, do convívio com artistas e, principalmente, para filhos e netos.

A forte ligação espiritual e mental com Psique acabou por convencer Eros a desistir de outra companheira nesta encarnação. Deu preferência a encontros episódicos, dionisíacos e absolutamente descompromissados.

Frequentemente, Psique habitava as insônias e os sonhos de Eros. Contudo, quando a jovem Afrodite entrou na sua existência conseguiu afastar Psique do inconsciente. Definitivamente, Afrodite abalou as convicções do pintor solitário e gregário. Todas as noites Eros espera – ansiosamente – por um sinal de Afrodite, no Telegram. Quando ela não surge, o nosso Eros, renascido para o aconchego e carícias permanentes, indaga: cadê você, querida?

As conversas tornaram-se mais íntimas e ousadas. Começaram com beijos, carícias e massagens corporais. Afrodite tomou a dianteira nos papos sobre sexo da forma mais libertina e inesperada por Eros.

Gradativamente eles falam do que gostam e do que não gostam das preliminares ao ponto final. O erotismo, a excitação mútua e o orgasmo individual têm forte presença na ligação sexual e afetiva. Afrodite, mais desencanada, enviou foto com uma blusa colante rosa emoldurada por decote longo.

Em pensamento, o nosso pintor desnudou o tórax bronzeado de Afrodite e desenhou os belos seios da deusa juvenil – foi o necessário e suficiente para fazer centenas de carícias escritas e descritas no monumental par de tetas eretas, de tamanho suficiente para encher as mãos.

Para celebrar o primeiro mês do interlúdio afetivo e sexual, Afrodite ganhou confiança. Presenteou o macho maduro com uma foto natural, mostrando desde os ombros até as orelhas do Mar Egeu. O prazer e o gozo tornaram-se rotina nos encontros pelo aplicativo. Afrodite pediu a Eros uma foto de cueca boxer cinza. Deseja apreciar o formato do equipamento fálico do mestre dos nus femininos.

Enquanto ganha coragem para enviar a foto íntima, Eros se dedica a desenhar e pintar o nu dos membros superiores de Afrodite, envolvido por uma camisola transparente de gaze branca como as nuvens em dias ensolarados da aprazível João Pessoa. Ouve Vaca Profana de Caetano Veloso e cantarola.
“Cabrita de divinas tetas. Teu bom para o oco, minha falta. E o resto inunde as almas dos caretas. Sou tímido e espalhafatoso… Dona das divinas tetas. Quero teu leite todo em minha alma. Nada de leite mal para os caretas. Mas eu também sei ser careta”.

Enfim, de perto e de longe ninguém é normal. Em plena pandemia, Afrodite pariu um novo Eros, que renasceu para pintar nus e o sete, com infinita criatividade e ousadia.

Imagem: representação de Eros e Afrodite – banco de imagens públicas

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