Em que consiste a ideia de liberdade e a tal abolição da escravatura no Brasil? Seguimos com esta interrogação desde de 1888, quando a falsa ideia da benevolência de uma mulher branca, formalmente e somente, outorgou a cidadania e o direito à liberdade a uma classe de pessoas, consideradas coisas, entes desumanizados.
No plano dos fatos operou-se a marginalização do povo preto no Brasil, com a exclusão urbana e laboral, a criminalização da religião, cultura e formas de expressão afro-brasileiras. O apagamento étnico e epistemológico é a outra face do projeto genocida brasileiro. Não basta o extermínio físico, o estado branco brasileiro se esmerou em tentar aniquilar toda a produção cultural do povo negro, porém sem sucesso.
Ao contrário da Argentina, que finalizou seu projeto seu projeto de genocídio do povo preto, reduzindo a população de negra de 33% a menos de 1%, na virada do século XX, o Brasil segue persistente em seu intento assassino.
Atentemos para a velha tecnologia de morte que a branquitude lança mão para dividir a luta do povo preto. Assim foi em Ruanda, tal como é a necropolítica punitivista brasileira, em que pretos fardados matam outros pretos, a mando de uma estrutura de poder branca e racista.
Nesse ponto, é que a diversidade do povo preto em diáspora não pode ser motivo de divisão. Se África é uma constelação de singularidades, tal não nos impede de conhecer a unidade de seus traços culturais em uma infinidade de línguas, etnias e sistemas sócio-antropológicos. Assim devemos seguir, povo preto!
A morte e tortura de Yan e Bruno pelo prepostos do supermercado Atakarejo, os vinte e cinco mortos na favela do Jacarezinho, na cidade do Rio de Janeiro, a chacina na Vila Moisés, em Salvador, oitenta tiros em um corpo de um homem preto que seguia para um chá de fraldas, a morte de crianças pretas em suas casas pela polícia, é uma absurda normalidade sustentada pelo racismo estrutural, em que vidas pretas são banalizadas.
Nesta pandemia é o povo preto que mais esta nas estatísticas de morte pela Covid-19. Por outro lado, a política de drogas é seletivamente racial na punição penal, em que jovens pretos, primários, com pequena quantidade de entorpecentes engrossam as estatísticas dos condenados por tráfico de substâncias ilícitas, ao invés de serem tipificados como usuários, um privilégio de brancos.
A abolição da escravidão é uma promessa vazia.
A partir deste mote que entidades do Movimento Negro – MNU, UNEGRO, CONEN, Círculo Palmarino, CEN – denunciam no dia de hoje a falsa abolição da escravatura e propõem uma ação conjunta para o combate ao racismo estrutural.
Não há nada para celebrar, e sim motivos para lutar pela vida e liberdade do povo preto.
Imagem: montagem ciranda.net (Chacina Jacarezinho, Chacina Cabula – foto Rafael Bonifácio Ponte Jornalismo,Yan e Bruno, crianças mortas em 2019 no Rio de Janeiro – Reprodução)
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