A diarréia da branquitude – parte 2 :“E por acaso negros não tem olhos, Boca?”

Imagem: Benett

Há quem olhe e quem enxergue. Esta evidência não foi capaz de revogar a regra colonial, ainda vigente de forma latente, de que o povo preto não tem “alma”. É uma coisa que pode ser descartada sem maiores preocupações. E assim se comportam as instituições estatais e seus atores.

Mas fiquemos em casa, eu insisto! Pelo menos estamos a salvo da Covid-19. Se não faltar água, se tivermos sabão, álcool em gel, e, principalmente, se não tiver as balas da polícia. Sim, fiquemos, porque ainda podemos nos instruir pela Tv com brancos reforçando seus laços de proteção.

Foi assim na emblemática entrevista entre Pedro Bial e sra. Xuxa Meneguel, do dia 22/05/2020. A entrevistada aponta um olhar “maldoso”, “exagerado”, um “mi, mi, mi…”, de quem polemiza um vídeo seu de 1991. Aquele em que a “rainha dos baixinhos” protagoniza um “black face” na figura de uma mulher preta, que menospreza um homem preto. Este personagem “encarnado” pelo Grande Otelo, pois “negro de branco é sinal de chuva”.

Oh branco, na boa, não gostamos de ser motivo de piadas! Tampouco devemos contemporizar ou entender pessoas e atos racistas por que era algo “normal” para determinada época. Não mesmo! Monteiro Lobato era racista. Defendia ideias eugenistas. Isto é, este senhor difundia a concepção que se baseava no melhoramento da raça através de uma seleção genética. Só para lembrar, é a mesma coisa que Hitler colocou em prática ao exterminar judeus, ciganos e homossexuais.

“Mas é Monteiro Lobato, gente! E o Bial, esse “homi” estudado, é quem o defende. Ele é “simpático” a preto, não é racista. Misericórdia, vocês vêm racismo em tudo”.

Tudo isso é exagero de vocês!

Será?

Pois é, o Sr. Bial, nesta entrevista, escamoteia as inclinações racistas de Monteiro Lobato. Numa outra entrevista na mesma semana, não lembro o dia, ele já havia posto ao fundo o livro do eugenista. Homenageando quem contribuiu para construção de estereótipos ridículos do negro, a negação da nossa humanidade, a estigmatização das nossas crianças negras em relação a sua imagem e autoestima no processo pedagógico, em um momento muito importante da idade escolar.

Em as “Caçadas de Pedrinho”, Tia Nastácia é descrita como a “macaca de carvão”. Aí imaginemos crianças brancas ridicularizando uma criança preta a partir da “bela” contribuição do senhor Lobato para literatura infantil. São as lições de ensino e aprendizagem de como ser uma racista mirim.

Nessa pegada, vamos entender Hitler por outra ótica, como um grande estadista, que tal?

A questão é que as “fadas sensatas”, os brancos politicamente corretos, possuem discursos que vão ao encontro da obviedade. Mas se cavarmos mais um pouquinho, a casca dura do racismo estrutural está lá, por debaixo da epiderme sem melanina.

É na TV que temos uma amostra do racismo à brasileira. Seja com mais uma notícia de extermínio de um jovem negro, seja com brancos bem intencionados, que até possuem “amigos negros”, mas defendem os racistas de sua casta. E aí eu pergunto: como é que seriam racistas né gente?

“Me diz quando essa zorra vai parar? Quando vão parar de nos matar? Quando vão deixar de nos discriminar?”, “Me diz”. Cantado pelo “favelado” branco Igor Kanário, essa música espelha bem esse papel da branquitude, trazido neste breve texto de hoje: eles possuem discursos bem intencionados, mas… Se espremer sai uma grande diarreia, tão forte que intenta nos calar e falar pelo provo preto, com todas as pérolas e lugar comum dos discursos racistas.

“Mas resistir é a lei da minha raça”, como diria Roque, em “Opai, ó”

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Pedrinha Miudinha

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