Mais um tijolo no muro do necrotério

O escárnio e celebração da morte das vítimas da Covid-19 no Brasil é uma atitude contumaz da besta do apocalipse, que paira sobre os trópicos. Causa espécie, em um momento tão trágico que se vivencia, o chefe do executivo federal pousar em tom deboche, com um simulacro de placa que trazia os dizeres ‘‘CPF cancelado’’. Nada de anormal, quando vem de um indivíduo que defendeu na câmara dos deputados, a ‘‘função social’’ das milícias em suas práticas de assassinatos, ou o extermínio de povos indígenas, levado a cabo, atualmente, com a condução da política sanitária nesta pandemia.

Mais estranheza é a do bem intencionado ‘’democratas’’ da boa terra, ao propor a exposição dos docentes e profissionais da educação aos riscos de contaminação pelos vírus da Covid-19, em salas de aula com alunos aglomerados e não vacinados. Os discentes potencialmente trocarão figurinhas entre as diferentes cepas que cada um pode ‘‘ostentar’’, com direito a contaminação de grátis para toda família, ou ‘‘brinde’’ de uma viagem só de ida para o Orun, purgatório, ‘‘nosso lar’’, a terra de ‘‘Tim Maia’’, ou como queira chamar.

Impressionou-me a aparente preocupação do prefeito ‘‘preto’’ Bruno Reis – foi que ele disse ao TSE que era preto, vou logo avisando… – com o índice alto de ocupação das UTI’s soteropolitanas, e o esforço supra partidário, com seus colegas alcaídes e o governador, para o enfrentamento da pandemia. Contudo, lembro-me da pressão das escolares particulares para que as aulas presenciais fossem retomadas, lá no início do ano, inclusive sensacionalistas da Boca Grande, foram garotos-propaganda desta campanha duvidosamente sincera e não remunerada – será? -, que foi frustrada pela emergência da segunda onda mais violenta da Covid-19.

Agora entendo com mais clareza que a estratégia da Lex Mercatoria do ensino privado em terras baianas, se dá por meio do poder público. Explico melhor: prefeitura e o estado – que já se assanha nesse sentido – colocam professores da rede pública ‘‘na tora’’ para trabalhar presencialmente, só com a primeira dose da vacina, e cria um fato que legitima o desejo dos empresários da educação privada.

Se outras áreas adotam protocolos para atendimento presencial, restringindo o número de pessoas em ambientes fechados, por qual razão os profissionais da educação podem se confinar em uma sala com trinta ou mais alunos? O Poder Judiciário, por exemplo, sistematizou o atendimento remoto com o balcão virtual, reclamações e diligências via email, audiências on line, ou seja, o magistrado e seus servidores nem de longe pensam em se expor a contaminação da Covid-19.

Mas professores são imortais, ‘‘CPF’s’’ incanceláveis, um potencial tijolo no muro dos necrotérios e cemitérios a la ‘‘Campo Santo’’ da vida soteropolitana. Ser imortal também é ser lembrado. Não desejar se tornar uma lembrança de ‘‘morte morrida’’, que nesse caso é ‘‘matada’’ mesmo, também é um direito humano fundamental. Sou professor e não quero ser lembrança matada/morrida.

Esta é a política de morte para a Educação, os educadores, os alunos e seus familiares, na pegada bolsonarista.

Sim, nós temos alguns, com fala polida e sorriso assassino de canto de boca.

Imagem: Bira Dantas

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