Estado Nacional Quilombista por Abdias do Nascimento

As formas coletivas e solidárias de luta, fortalecimento, auxílio e proteção da população preta se expressa através do Quilombismo, substantivo que abarca não somente o sentido histórico e inicial do termo, ligado às primeiras experiências políticas de construção de uma sociedade livre, mas também a todos os ajuntamentos religiosos, políticos e culturais formados pelo e para o povo preto no Brasil.

Quilombismo se traduz como uma concepção política de construção de um Estado Nacional Quilombista, orientado pela experiência histórica e cultural da população preta brasileira, tributária de mais da metade do contingente demográfico no Brasil, que por sua vez, é maioria no número de encarcerados do sistema prisional, de mortos pela polícia, mas não estão nos quadros de poder institucional privado e público, como o de magistrados, por exemplo, formado por 84% de pessoas brancas, segundo censo do Conselho Nacional Justiça (CNJ) realizado em 2013.

O ator, poeta, escritor, dramaturgo, artista plástico, professor universitário, político e ativista dos direitos civis e humanos, Abdias do Nascimento, foi um dos mais importantes pensadores e vozes das questões raciais no Brasil e no mundo. Sua vasta atuação política é pontuada pela criação do Teatro Experimental do Negro (TEN), o Museu da Arte Negra (MAN) e o Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros (IPEAFRO) e atuação vigorosa no movimento pan-africanista. Exilado no período da ditadura brasileira, professor Abdias do Nascimento lecionou em solo estadunidense na Universidade do Estado de Nova York, na Escola de Artes Dramáticas da Universidade Yale; na Nigéria, deu aulas no Departamento de Línguas e Literaturas Africanas da Universidade de Ife.

Suas obras ‘‘O Quilombismo’’ e o ‘‘O Genocídio do Negro Brasileiro’’ compreende uma amplitude temática indissociável ao debate racial, como ambientalismo, as assimetrias de gênero, o extermínio físico e cultural do povo preto, o direito ao trabalho, a propriedade coletiva, atenção aos vulneráveis. A contemplação de tais pontos ocorre dentro de uma “transformação das relações de produção e da sociedade de modo geral por meios não violentos e democráticos” por meio de um “igualitarismo democrático […] no tocante a sexo, sociedade, religião, política, justiça, educação, cultura, condição racial, situação econômica, enfim, todas as expressões da vida em sociedade;” – trechos do livro ‘‘O Quilombismo’’.

A peculiaridade do racismo no Brasil está na roupagem dada pela democracia racial ou a tal da mestiçagem, que destaca a suposta ausência de conflitos étnicos por conta do cruzamento de raças. Embora no Brasil não tivesse explicitamente leis como as ‘‘Jim Crow laws’’ e o regime do apartheid sulafricano, a face latente e dissimulada do racismo cordial brasileiro é bem mais perversa, pois promove e naturaliza o assassinato em massa da população preta, a destina às piores condições de trabalho e moradia, e tentar embranquecer seus traços, identidades, religião e expressão culturais em sentido amplo.

É esta agudeza sobre a negritude e o enfrentamento do racismo que o professor Abdias Nascimento nos oferta. Antes de se falar, inclusive no âmbito do Direito Internacional, de políticas afirmativas, este Baba epistemológico já trazia a importância e a necessidade de tais medidas.

Encontramos inclusive em Abdias do Nascimento os caminhos de quem e o que somos do outro lado do Atlântico, isto é, a identidade e a busca dos laços familiares que o personagem ‘‘Babatunde’’ do filme ‘‘A Deusa Negra’’, do cineasta nigeriano Ola Balogun, empreende nas casas de Candomblé do Rio de Janeiro e da Bahia.

O orgulho de ser preto ou preta é pertencer à raça do professor Abdias do Nascimento.

Imagem: Montagem Ciranda.net (Adbias do Nascimento)

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