‘Um céu todo azul ogum tá lá…
É festa vamos contemplar…
Oke Arô Oké Odé….
Umbualana, Otin, Inlé
Umbualana, Otin, Inlé…
Oké Arô Oké Odé….
Ó céu estremeceu, vem tempestade
Raios e ventos anunciam
Chegou a rainha de Bale
Ó mãe Oyá que me defenda
E afaste de mim toda maldade
Oxum Padá, vem com o Inlé
Pra dar o Ofá
Ao filho Logum Edé
Traz seu Alá, pai Oxalá
E abençoa a todos ó Mãe Yemanjá
Salubá
Oké…’’
Celebrar um céu todo azul, onde eu vi Ogum, foi a ‘‘deixa’’ que o dono do metal me deu. Estava na casa de meu parceiro Claudinho, lá no Nordeste de Amaralina. Ali, com os olhos no céu de verão e o sol ‘‘lascado’’ de Salvador, comecei a escrever para aquele que me escolheu como seu Ogan Alagbê.
Muita ‘‘onda’’ foi esta música ser rejeitada por um artista da Axé Music, por que ele havia se tornado evangélico, continuava cantando ‘‘música do mundo’’, mas não podia cantar a minha porque era, supostamente, do diabo que habita nele. Racismo religioso de um mercenário, como muitos que tem aí no cenário da música baiana.
Fiquei chateado, mas Oxosse e Ogum me ensinaram que não se deve dar pérolas aos porcos. Eles haviam reservado esta canção-oração para a voz de Alexandre Guedes, que em uma interpretação linda, gravou-a no Cd ‘‘Motumbá pra você’’.
Já passou…
Retribui o axé recebido, em louvor a Ogum, com o aguidavi, as mãos e a voz.
Como cita Pierre Verger, “Ogum, o valente guerreiro, o homem louco dos músculos de aço!”, no mês de agosto do ano de 2002 soltou ao vento, em um rodopio, o nome de mais um que acabara de nascer.
Um filho de Oxossi, ‘‘Oké Arô Oké Odé’’. O caçador de uma flecha só, que traz a alegria e a prosperidade, como também a paz às terras de Ifé. Dono de meu Ori, onde também reina Oyá, a divindade feminina e luxuosa, que se camufla na pele de um búfalo. Leal, guerreira e tempestuosa, esta é Yansã.
Saúdo, também, nesta letra os dois Orixás que me regem, e aquela que no fundo do rio concebeu Logun Edé, no encontro com Inlé, em terras sagradas do Norte da Nigéria. Ela, Oxum, a deusa do amor e da fertilidade, simplesmente apaixona qualquer um, eu sou um dos apaixonados.
Pai, mãe e mãe duas vezes. Oxalá, Yemanjá e Nanã. O branco da paz me guia, pois “Oxalá é, sem dúvida, o senhor do poder (axé)’’, segundo os Imalés na obra de Verge.
Odô Iyâ Yemanjá! A deusa do mar de fartos seios. Ela é pretinha como canta Emicida.
Salubá Nanã Buruku, minha reverência à sabedoria das matriarcas mais velhas e a força poderosa de uma divindade das águas.
Celebração, exaltação e afirmação política da nossa ancestralidade, é o meu culto e a minha caminhada, hoje e todos os dias.
Axé a todos!
Imagem: Cantinho de Francisco, montagem ciranda.net
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