Não aconselho a leitura desta crônica. É apenas mais uma com pouco ou quase nada a acrescentar diante do tsunami de informações e opiniões que se multiplicavam antes, e agora piorou/melhorou muito em tempos de noventena (ou mais, bem mais). No passado, ficávamos excitados com informações de qualidade, mesmo que fossem apenas opiniões sem tanto compromisso em fundamentá-las. Agora, estamos soterrados. Elas se repetem sem dó. Mas há bem menos muros entre nossas inúmeras tribos. Isso não foi sempre desejável?
Quero, minha ética exige que eu pratique empatia. Preciso compreender melhor como sentem, de verdade, as pessoas, grupos e comunidades muito além dos clichês e generalizações. Mas isso gera muita ansiedade em nós que não somos excepcionais, gênios ou afins.
Somos beneficiados e, ao mesmo tempo, vítimas de lives, videoconferências, webnários, artigos e crônicas de toda ordem, dissertações burocráticas, pensamentos sucintos sem fim pelas redes sociais, a maioria para repetir ou confirmar aquilo que já sabemos ou sentimos. E perdemos dois terços do tempo apenas filtrando o que é importante naquele momento, do supérfluo. Preciso de um aplicativo individual com meu DNA e minha cultura sofrível para fazer isso por mim. Dá um desespero quando vejo dez vezes a mesma postagem aparecendo na telinha do smartphone. Eu poderia apenas olhar para o nada, respirar consciente ou sonhar acordado, mas terei que deslizar meus dedos mil vezes para evitar tanta repetição. Quando consigo escorregar meio metro de mensagens de uma vez só, fico satisfeito por reservar os toques para outras coisas mais interessantes. Não consigo, entretanto, evitar a angústia de eventualmente perder algo fundamental para minha sobrevivência: um evento virtual decisivo para minha vida profissional, afetiva ou puramente existencial; uma solução simples para todos os males; segredos tácitos para melhorar o mundo, destruir o fascismo, interromper a elevação de temperatura do planeta, acabar como racismo ou, como dizem as misses, “apenas” obter a paz mundial.
Mas cada qual tem seu tempo. Os impactos do excesso de informações afetam todos nós de forma muito distinta. De um dia para o outro, ou paulatinamente, podemos desenvolver novas sensibilidades, sentir a dor ou a alegria de alguém ou de uma coletividade bem diferente do que somos. Podemos nos transmutar num florista sensível que oferece seu produto para alguém que adoraria exercer uma manifestação de amor. E há uma troca momentânea, “quase” impagável, afinal, o florista precisa sobreviver. Podemos nos transformar em moradores das encostas cada vez mais afetadas pela intensidade das chuvas, reflexos das mudanças climáticas. Ou, talvez, nas vítimas das cheias e alagamentos causados pelos vales desmatados ou rios entubados. Posso me travestir num homem negro assassinado por asfixia por um racista de estado. Fecho os olhos, sinto o joelho do assassino no meu pescoço até que eu não consiga mais respirar, falta-me oxigênio exatamente agora, peço peloamordeDeus… Agora sou da roça, tenho orgulho velado de produzir alimentos saudáveis, sinto as pessoas na feira de sábado, aguardando com sorrisos minha oferta de tomate, batata-doce e feijão verde, livres de quaisquer venenos. Sinto esses adultos satisfeitos por poderem servir esse tipo de alimento para seus filhos.
Posso sentir tudo isso pela filtragem das informações transformadas em conhecimento, mas devo fazer um exercício muito mais profundo para não ser uma sensação apenas superficial e devo mentalizar seguidamente para o acaso me ajudar a receber informações de qualidade.