Quando vizinho meu foi convidado para o churrasco de aniversário, ele quis levar a mim e mais três conhecidos.
O vizinho era bom e o vinho mais ainda.
Na noite fria do deserto patagônico a carne quase crua era saboreada e o vinho compartilhado no gargalo por todas as bocas ao redor do fogo.
Vivemos seis mil em Loncopué desde que nos lembramos gente e cremos assim que a vida se oculta nas ranhuras desse chão enfastiado de poeira tamanha que a ventania, quando se faz visitadora, nós não enxergamos pessoa inteira do lado outro da rua.
O dono daquela casa morreu, depois mais um e enquanto vos falo, acocorado na banqueta por detrás das cortinas e janelas do quarto que é meu, a morte espia pelas frestas e alma nenhuma ronda as ruas de Loncopué, onde gente infectada às dezenas pela doença do vírus se cala nas camas frias de suor.
Nesse finzinho de terra, pessoas falam pouco e alguém na pressa mandou avisamento que todos seremos buscados.
Quando daqui me for, portarei saudades muitas e junto comigo o chapéu para a noite mais fria.
imagem: Loncopue