Inkisses, Orixás e Voduns perdoai-vos, mas o pior é que Camargo, digital influencers, blogueirxs e afins… sabem o que fazem

Imagem: Ribs

Janeiro de 2013, verão na cidade de Buenos Aires, eu com a cabeça na lavagem do Bonfim em Salvador, enquanto rolava a aula “Seminário de Direito Público” do Doutorado. Motivado por uma discussão anterior sobre ‘’Quilombo’’, trazido por uma senhora branca da Paraíba, um típico e abjeto personagem da elite branca coronelista, acendi novamente, no final da aula, o resto de pólvora.

Queria um ejó, então perguntei ao professor: “¿Dónde están los negros de Argentina?”.

‘’Los negros no son un problema en Argentina’’, fue asi la respuesta del maestro.
É brincadeira?

A depender do ponto de vista, pode até não ser um problema, mas é curioso que uma população que no século XVIII, correspondia a 30%, já no século XX, se reduziu a cerca de 2%. ‘’El enigma da desaparición’’ tratado na obra de George Reid Andrews, ‘’Los afro argentinos de Buenos Aires’’, na minha opinião, informa a mais bem sucedida campanha de extermínio étnico da população preta na América Latina.
Outros projetos seguem em curso na atualidade.

Na Revolução Farroupilha, no século XIX, da República Rio-Grandense, os lanceiros negros, supostamente libertos, foram exterminados no Massacre de Porongos, porque um acordo com exército legalista e os farroupilhas para por fim ao conflito, tinha um grande inconveniente: a liberdade concedida aos negros do Corpo de Lanceiros.
Como resolve isso? Deixa os pretos com as lanças, uns 600 a 700 mais ou menos, para enfrentar o bem armado o exército de assassinos ‘‘caxias’’. Sim, vão morrer, e daí?

Semelhante ocorreu no final da guerra da secessão – 1865 – nos EUA, mas houve a abolição da escravatura, né? Pera um pouco… porque a Jim Crow laws criou um conjunto de leis que estabelecia a separação entre negros e brancos em locais públicos. Detalhe, as piores instalações e serviços públicos eram destinados a população negra. Homens negros estadunidenses, em 1932, se tornaram, sem saber, cobaias no estudo “Tuskegee de Sífilis’’. Estas pessoas não eram informadas sobre o diagnóstico da doença, tampouco tratadas. Eram somente observados com a evolução da enfermidade até o quadro de óbito, enganados com falsos tratamentos. Ao final da decomposição dos corpos negros, somente algumas dezenas sobreviveram ao experimento a la Hitler.

Ah… mas o Brasil Imperial ‘‘libertou negros’’, sim… para morrerem pela pátria na Guerra do Paraguai, após indenizarem os seus senhores. Também tinha muito branco se casando para não ir para guerra, desertando e não muito afim de morrer na bacia do Prata. Sobrou pra quem?

As formas de extermínio do povo negro são as mesmas, não muda o repertório. A inclusão nos serviços públicos, com o falso reconhecimento de uma cidadania, tem sempre uma razão utilitarista, que após atingir a tal finalidade, retorna-se ao status quo anti: a desumanização cruel e perversa das vidas negras.

Não se engane com o branco, como se diz em Salvador, muitos deles só ‘’coçam pra si’’.

Camargo, digital influencers, blogueirxs, artistas pop’s – alguns se dizem candomblecistas veganos, é molé? – surfam nesta onda e desmoralizam as bandeiras do movimento negro de acordo com suas estratégias de poder. Um escolhe ser o capitão do mato, tendo por arma um discurso negacionista, de baixo nível, acientífico para atacar toda uma luta de resgate historiográfico do povo negro no processo diáspórico no Brasil, e agradar o intento do capitão cloroquina. A outra horda segue um chek-in list do ‘’politicamente correto’’, mas esquece dos racismos ditos, das alianças com a turma reacionária do chefe do Camargo, em busca de likes e engajamento na tal ‘‘#blackouttuesday’’.

Ah… quanto aos negros e ‘’El enigma da desaparición’’ na Argentina, nós sabemos como eles ‘’sumiram’’ do mapa lá no cone sul, pois os brancos não são criativos: guerras, experimentos em saúde pública, assassinatos em massa…

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Pedrinha Miudinha

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