Acordei às 7h15, mas estou demorando para despertar os sentidos. Sigo o humor do domingo nublado escondendo o sol e soprando frio.
Sentado no escritório, bebendo lentamente uma xícara de café forte desenho na mente o que fazer durante o dia. Desejo continuar a leitura de “a guerra não tem rosto de mulher”, de Svetlana Alexsiévitch que a minha filha emprestou. Ao mesmo tempo penso iniciar a leitura de um artigo para dar parecer de publicação para um livro de economia. Ainda preciso saber o que farei para o almoço dominical. Enfim, pequenas indecisões sadias em tempo de pandemia.
No balanço das dúvidas e sem ter pressa para decidir o que fazer enquanto o sol não abrir, dou uma espiada no facebook para ler as crônicas dominicais de Vicente Sa e Paloma Amado. Eis que me deparo com fotos no Palau de la Música Catalana, em 24/5/2016.
Estava em companhia de Vera Lucia de Barros, a famosa Verinha do grupo de meditação que se transformou em amiga para a vida. Íamos para o retiro espiritual do Caminho Brilhante em Tarragona, mas decidimos chegar dez dias antes para um rolê em Barcelona e Marraquexe.
Quando passamos por uma igreja no tour de reconhecimento em Barcelona, vejo um rapaz vendendo convites para o Tributo à Paco de Lucia, com show dos três “maestros de la guitarra”: Luis Robisco, Manoel Gonzalez e Xavier Coll. Pergunto o preço e olho para Vera. Ela se adianta e afirma: vamos, né Adrô. Compramos os convites para a estreia e combinamos de ir cedo para Verinha conhecer o Palau de La Musica Catalana.
O tributo musical foi belíssimo. Mexeu com todos os sentidos e com a alma ouvir e ver três guitarristas espanhóis virtuosos tocando em homenagem ao inesquecível Paco de Lucia. Na segunda parte do show convidaram a “melhor dupla de flamenco” para dançar e um trio de cantores sevilhanos.
Ao final do tributo comprei o CD dos três e conversei com Xavier Coli. Quando Xavier soube que sou baiano falou da amizade com Caetano Veloso e do show que fizeram juntos no Teatro Castro Alves. Adorou Salvador, a cultura, a religião de matriz africana, o Olodum o Pelô, o Porto da Barra, as igrejas, os museus, o Solar do Unhão, o Rio Vermelho, o por do sol no Humaitá e os músicos e o povo soteropolitano. Estava planejando voltar em 2017.
Respiro profundamente e me toco: “hoje é domingo e pede cachimbo!” A leitura do artigo fica para segunda, dia de trabalho. Improvisarei na cozinha, lerei o romance e ouvirei os “maestros de la guitarra” para alertar o dia dos menos apressados e atentos para a voz do coração.
Imagem: Barcelona Turismo
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