Imagem: Alirez Pakdel
Podemos dizer, sem receio, que são infinitas as contribuições reflexivas sobre os efeitos da pandemia por Covid 19 no presente e no futuro. Nunca estivemos debruçados de maneira tão profunda e, ao mesmo tempo, confusa, cheios de idas e vindas, nos nossos dilemas existenciais. Será que eu vou morrer? Será que cumpri, basicamente, minha missão? Minha existência valeu a pena? Tem muitas coisas que eu gostaria de estar reparando agora? Estou me dedicando a isso? Estou preparado para a morte de meus avós, meus pais, meus filhos, meus amores, companheiros e companheiras?
O neurocientista Sidarta Ribeiro, da UFRN, tem nos ajudado nessa reflexão. Ele nos recorda que, desde os primórdios, a possibilidade da morte espreitando os seres vivos, especialmente os humanos, era uma realidade cotidiana. Em tempos de paz relativa, com o advento dos antibióticos, das vacinas e das revoluções na comunicação, isso mudou. As atuais gerações não vivenciavam essa sensação até a pandemia. Agora, nos tornamos conscientes dessa possibilidade em curto prazo. Já somos outras pessoas, estamos reposicionados individual e coletivamente, ainda que nossos sentimentos sejam muito variados. Prevalece a polêmica sobre o que será de nós e quando se darão as futuras etapas do pós-pandemia ou da convivência com esta e outras eventuais enfermidades.
Importante considerar o desequilíbrio ecológico que favorece a migração dos vírus e suas mutações e o surgimento de novos patógenos; considerar diversos outros elementos que afligem a saúde pública como, principalmente, o estresse inerente ao capitalismo, os impactos dos agrotóxicos, os venenos contidos nos alimentos superprocessados, a poluição, o excesso da produção e consumo de carne, a degradação dos mananciais hídricos, a desertificação, a perda de biodiversidade.
Mas o espectro da mudança do clima ronda o cenário global que ora compartilhamos e cujo futuro, pelas evidências fartamente documentadas, remete-nos a uma sensação de fim de mundo que, de certa forma, dialoga com o que estamos sentindo neste momento. Vale recomendar as diversas publicações sistematizadas pelo pesquisador Luiz Marques, da UNICAMP, em “O Capitalismo e Colapso Ambiental”, já que é impossível fazer algum resumo do tema, por aqui.
Com efeito, se estamos à deriva com o facínora que ocupa o Planalto, seja em relação à Covid, seja em relação a todos os outros temas, inclusive os aspectos que implicam no aquecimento global, a simbologia da morte deve ser enfrentada, a curto prazo, com o inadiável impeachment do inominável, e a médio e longo prazo, com a mudança radical de paradigmas que apontem para um caminho de sustentabilidade, redução drástica de consumo pelos ricos, solidariedade e redistribuição de renda. Afinal, pra que servem os milhões ou bilhões de dinheiros que as elites acumularam, se hoje, com a Covid 19 ou com o cenário de mudança climática, nem há como desová-lo?