O sol demorará para fazer a festa no Planalto

Chuveu na madrugada e esfriou em Brasília. Despertei tremendo mais do que vara verde. Então apelei para o cobertor que estava hibernando em saco plástico no armário. Que alivio! Dormi feito um bêbado equilibrista.

Iniciei a redação de um artigo de economia. Não consigo perceber um raio sol no Brasil. Gostaria que o sol da democracia e do bom senso político, econômico, social, cultural e ambiental brilhasse no Planalto e em nossos corações. Vai demorar. Vai demorar, mas o dia haverá de chegar…

O título provisório do artigo é: Tragédia Humana e Depressão Econômica no Brasil.
Breve ultrapassaremos a Rússia pelo segundo lugar em quantidade de infectados e mortos; disputaremos o pódium do caos na saúde publica com os Estados Unidos.
Em termos econômicos formou-se o consenso na maioria dos economistas de diferentes escolas de pensamento e escolhas políticas de que a queda do PIB será, no mínimo, -6% em 2020.

A continuar a inação do Estado em cumprir o papel inalienável e improrrogável de proteger os trabalhadores, os mais vulneráveis e as micro, pequenos e médios negócios, o tombo na economia será o maior desde o século XIX. O governo foi ágil em repassar 1 trilhão de reais para os bancos e as finanças. Entretanto, tem sido extrernamente lento e cruel para fazer chegar a ajuda de 600 reais aos mais pobres e vulneráveis. Paulo Gurdes, ministro da economia na famosa reunião palaciana de 22/4, declarou: “vamos vender a porra do Banco do Brasil”. #Láele!

Trabalhei 13 anos na Presidência da República (1999-2012). Nunca vi ou soube de uma reunião que parecia a torcida organizada do Botafogo no Maracanã, xingando a mãe do juiz e companhia. Nem no Castelo do Sonho Azul em Feira de Santana, ouvia-se tanto palavrão. Maria Manchinha sabia botar ordem no puteiro. Chamava os leões de chácara e botava os alterados pra correr.

Dói-me no coração e embrulha meu estômago ter a obrigação de escrever sobre a tragédia anunciada na sociedade brasileira. Mas hei de agir como médicos e enfermeiros na linha de frente do atendimento da covid 19. Primeiro cuidam os pacientes. Depois do plantão desabam no choro.

Não devemos desanimar. É hora de resistir e lutar juntos. Ainda há tempo de salvar muitas vidas, salvar a democracia e salvar o Brasil da tsunami econômica e social.
Amo meu país e meu povo. Façamos o sol brilhar outra vez em nossos corações.

Brasília, 19 de maio de 2020.
Adrô Quintela de Xangô

Imagens: Adroaldo Quintela

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