Mulheres mortas em Paris difundiam luta curda pelo mundo

Nas fotos, Sakine Cansız, Fidan Dogan e Leyla Söylemez

Em junho de 2012, a ativista curda Fidan Dogan, conhecida como Rojbin, integrante do movimento das mulheres livres e membro do Congresso Nacional do Curdisão baseado na Bélgica, esteve no Rio de Janeiro para defender o direito à identidade curda como um bem comum inalienável de seu povo. E para divulgar a campanha pela libertação das lideranças presas na Turquia, entre elas Abdullah Öcalan, lider do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK).

Ela integrou a comitiva que veio ao Brasil também para participar do II Fórum Mundial de Mídia Livre, onde seu companheiro de delegação, Yilmaz Orkan, relatou a dificuldade de divulgar na grande imprensa a luta e o sofrimento do povo curdo, um povo sem Estado, que se divide entre a Turquia, Siria, Iraque e Iran, e luta por reconhecimento político e preservação de sua história. As notícias dos frequentes ataques aos curdos na Turquia somente circulam pelas midias alternativas do mundo, inclusive no Brasil, afirmaram. Por isso o trabalho de ativistas como Fidan Dogan, a Rojbin, a partir de Paris e da Bélgica, era crucial para difundir a realidade curda e buscar solidariedade mundial.

Yilmaz e Rojbin, na mesma oportunidade, estiveram presentes à uma reunião de integrantes do Conselho Internacional do FSM, no Rio, dando continuidade a um processo iniciado com a presença do Conselho em Dyiarbakir, em 2011, com o objetivo de aproximar as lutas do povo curdo das agendas de solidariedade dos movimentos sociais pelo mundo.

Assassinos querem barrar negociações de paz

Em 10 de dezembro último, Fidan Dogan e duas companheiras da resistência do povo curdo foram executadas dentro do Centro de Informação Curda mantido em Paris. Ela era a dirigente do centro estratégico e uma representante diplomática do Curdistão na Europa. Com Rojbin estavam Leyla Söylemez, jovem militante política e Sakine Canziz, uma alta liderança do Partido dos Trabalhadores Curdos (PKK), do qual foi fundadora em 1978. Por sua militância, Sakine passou vários anos presa na Turquia. Era uma feminista altiva, que mesmo prisioneira chegou a cuspir no rosto do diretor do presídio. Ficou 11 anos encarcerada.

Muito pela influência de Sakine, o PKK apostou no poder das mulheres para organizar a resistência, liderar guerrilhas e ocupar postos chave na política curda.

“Foi com choque e pesar que recebemos a horrível notícia das mortes de nossas queridas amigas que foram massacradas em Paris de modo grotesco”, diz um comunicado da EUTCC, Comissão Civil da Turquia na União Europeia. Rojbin vinha trabalhando com essa comissão há vários anos e “seu trabalho vinha sendo muito importante para nossa atividade internacional pelos curdos”, explica a nota.

Para a comissão, o assassinato das três mulheres políticas de alta relevância foi um golpe contra as negociações que vinham sendo organizadas em Imrali entre o Estado da Turquia e o lider do PKK Abdullah Öcalan. “A tragédia de Paris mostra que há forças obscuras profundas, inimigas da paz, contra o novo processo político, a ponto de julgarem necessário assassinar três pólíticas curdas que estavam trabalhando por uma solução e pela paz”

Pelo modo como as mortes ocorreram (os corpos foram encontrados pela manhã, com tiros na cabeça), a Confederação do Povo Curdo avalia que os assassinos eram profissionais a serviço internacional, que o massacre foi organizado e implementado por quem não deseja o sucesso das negociações com Öcalan e quer manter o jugo colonial da Turquia sobre o Kurdistão.

Os curdos cobram das autoridades francesas providências imediatas para por fim à sua criminalização no país. “Os curdos na França e na Europa não constituem ameaças às autoridades nos países em que vivem. Pelo contrário, eles trabalham firmemente em busca de solução para os problemas na Turquia e deveriam ser premiados em vez de criminalizados, perseguidos, encarcerados como o diplomata curto Adem Uzun, ou mortos”.

Rojbin vinha manifestando preocupação com a política francesa em relação aos curdos. Em entrevista ao “Avant Garde”, em junho de 2012, ela alertou para a contradição de uma França que de se opos à entrada da Turquia na União Europeia, mas, a fim de preservar suas relações com a Turquia, fez acordos para prender curdos militante. “Desde 2007, tem havido várias prisões, buscas invasivas, e processos na França”, denunciou.

A razão das mortes e das forças por trás delas ainda não foram esclarecidas – “mas serão”, garante a comissão.” Estas pessoas devem saber que tais assassinatos ou qualquer provocação que possam fazer no futuro não vão interromper o processo de paz. .. Forças do mal em qualquer forma que tomem nunca derrotarão a vontade genuína do povo curdo por liberdade – elas apenas tornarão mais forte o trabalho para conquista-la. O trabalho incansável de Sakine Canziz, Fidan Dogan e Leyla Söylemez’s pelo povo curdo ficará para sempre como um monumento em suas memórias”, diz o comunicado.

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