Durante a semana que antecedeu o início das atividades do Fórum Social Mundial, rumores circularam nos corredores da Pontifícia Universidade Católica de Porto Alegre. O que diziam os ruídos? Os militantes do Partido Socialista dos Trabalhadores Unificados (PSTU) abririam uma faixa na passeata com os dizeres: “Fora Lula, Fora FMI”, reeditando o bordão da era-FHC. Não foi o que ocorreu. “Ôoô Lula! Eu quero ver! O plebiscito da Alca acontecer!” Era esse o grito de guerra que ecoava da boca dos trotskistas, que tingiram de rubro a avenida Borges de Medeiros, durante a passeata de abertura do 3º FSM. A faixa? “Lula, rompa com a Alca e o FMI”. Um pedido, não uma imposição.
O partido trotskista – proveniente de um racha do Partido dos Trabalhadores (PT) – demonstrou com esse ato o que dele já se esperava: irá acompanhar criticamente os passos do governo Lula. Por outro lado, também evidenciou que não fará uma oposição sistemática ao novo presidente, como o fez com Fernando Henrique Cardoso em seus oito anos de administração. Sinal dos novos tempos, que parecem ser de mais consenso e menos de agressão. Essa relação, no entanto, depende principalmente da postura do novo governo federal, que não pode se esquecer de promover as mudanças estruturais as quais a sociedade brasileira exige.
Sem um presidente para atacar, o alvo dos trotskistas, neste ano, foi o presidente dos Estados Unidos da América, George W. Bush, cuja mãe foi insistentemente ofendida durante os três quilômetros e meio da avenida central porto-alegrense. Quem também foi lembrado, mas não com muito carinho, foi o premier israelense Ariel Sharon, cujas ações militares contra o povo palestino foram tachadas de “nazistas e sionistas”.
À frente geográfica e politicamente das forças socialistas representadas no FSM – entre as quais o boliviano Movimiento ao Socialismo (MAS), cujo líder é o cocaleiro Evo Morales, e o argentino Movimiento Socialista de Los Trabajadores (MST) –, o PSTU voltou a defender a ruptura do governo federal com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e a saída do Brasil das negociações da Área de Livre Comércio das Américas (ALCA). Esta, ao que se viu, permanece como principal inimiga dos trotskistas brasileiros.