Acreditar naquilo que se escreve, fala, transmite e pensa e querer compartilhar essas informações faz parte da gênese da chamada mídia livre ou alternativa, em que o processo colaborativo para a transmissão do conhecimento está acima do apelo comercial. O desafio maior, no entanto, é conseguir empoderar a sociedade para se tornar protagonista nesta trajetória da comunicação. Esse foi o ponto central do painel Nossa Imagem e Nossa Voz: Mídias Livres e Alternativas, no segundo dia de debates e seminários do V Fórum Social Pan-Amazônico, no dia 27 de novembro deste ano.
Na opinião de Ermanno Allegri, da Adital – Brasil, conhecer significa ser livre. “Qualquer boletim, rádio comunitária devem ser valorizados. Mas é preciso exigir e ir atrás para que haja expansão (desses meios)”, defendeu.
Para Terezinha Vicente, da Ciranda.net, informação é, acima de tudo, poder. “Por isso, ele será maior, quanto mais for organizada”. Na análise da jornalista, hoje ainda há um acesso maior por meio da TV e do rádio e é preciso expandir a proposta da banda larga gratuita para todos. “A comunicação forma valores e a leitura crítica da mídia, nesse sentido, deve ser ensinada desde a infância”, disse.
O fato de a grande mídia misturar informação com entretenimento é um aspecto a ser reavaliado, segundo ela. “ “Conflitos viram show, como se estivessem longe da gente”, falou. Terezinha lembra que em relatório da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura – UNESCO, dos anos 80, no direito à comunicação está o de buscar as fontes, discutir e transmitir a verdade do coletivo.
Na busca de novos espaços para a mídia alternativa, o jornalista Sérgio Miletto informou que foi fundada a Associação Brasileira de Empresas e Empreendedores de Comunicação – Altercom (www.altercombrasil.com.br), com esse propósito, como um dos resultados da Conferência Nacional da Comunicação – Confecom, no ano passado.
Respeito à regionalidade
A professora Rosane Steinbrenner, da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal do Pará (UFPA), reforçou que nos rincões do Brasil, as pessoas têm o direito de decidir como vai chegar a comunicação. “…O destino dos amazônidas (hoje) não está sendo discutido por eles, como com relação à Belo Monte…Sem comunicação, sem território não há jeito de apresentar identidade e, com isso, se pauta em referências externas…”, avaliou.
Nessa seara de exclusões, a educadora conta – “A gente diz que a Amazônia Continental é a periferia da periferia…”. A falta de oferta de tecnologia se acentua principalmente na região Norte rural. Segundo ela, jovens dos 10 aos 18 anos, que recebem na faixa de até três salários mínimos, e que pagam pelos serviços, são chamados de ´geração lan house´. “Só há na região 3% de oferta pública”, diz, baseada em dados do Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e da Comunicação – CETIC 2008.
Dea Melo, da ABRA – Brasil refletiu que, ao mesmo tempo, é melhor que essas tecnologias não cheguem às comunidades (incluindo acesso à energia elétrica), caso não haja um preparo da mesma para a assimilação das mudanças a serem inseridas. “O meio de comunicação da Amazônia é tradicionalmente oral. O desafio é como fazer o diálogo entre as ‘raízes’ e as ‘antenas’, afirmou.
E é justamente a educação dialógica que vem com a comunicação, que deve ser pauta também nos espaços formais das escolas (além dos informais e não-formais), segundo Dan Baron, da Rede Brasileira de Arte-Educadores e da Comissão do FSM. “Há jovens no Pará, por exemplo, que não se identificam como da Amazônia”, disse.