“A disputa ideológica é o elemento de maior força hoje do capital, superior à disputa econômica, política, militar”, disse Emir Sader abrindo este painel no FSA. Citando exemplos das crianças e jovens, “vitimas privilegiadas do modelo neoliberal” e também da China, que nunca antes havia sido tão influenciada pelo modo de vida norte-americano, Emir atacou fortemente o modelo imposto pelo mercado, que só valoriza as pessoas enquanto consumidoras. O shopping Center é seu símbolo, onde tudo se transforma em mercadoria, e onde as pessoas entram deixando seus problemas lá fora, onde não há pobres, nem crianças abandonadas, nem gente vivendo na rua. Tudo tem preço e tudo está à venda. Há pouco tempo, a água era exemplo de bem para todos, hoje também virou comércio.
“O neoliberalismo acabou com o espaço público, hoje tudo é estatal ou privado”, salienta o professor. “Entretanto, o que se chama de privado na verdade é mercantil; dizem da privatização de empresas que as tiram do mercado e não das pessoas, acabando com a esfera pública, que é a esfera dos direitos”. Lembra que o Brasil é o país mais desigual da AL, onde a maioria não tem direito a bens fundamentais, como saúde e educação, entretanto todos buscam um “acesso ansioso ao consumo, nos faltam valores de sociedade alternativos a isso”.
“Que notícia extraordinária que tenha acabado o analfabetismo na Venezuela e Bolívia, mas quem deu?” Sader defende os valores de solidariedade de Cuba com nossos países, sobretudo nas áreas de educação e saúde, e questiona porque a mídia não divulga essas boas notícias, como a de um filho de camponês se formar médico em Cuba. “O Brasil que tem em seu patrimônio o método Paulo Freire, continua com 10 milhões de analfabetos! A publicidade é uma máquina ideológica avassaladora, nossas crianças e jovens precisam ser ajudados a criar outros valores”. Uma nova ética, uma nova ideologia não se afirmam apenas no papel, diz ele, é preciso construí-las na prática.
Avança o direito a comunicação
Sally Burch, da ALAI (Agencia Latino Americana de Informação), coloca o questionamento que vem tendo o controle dos meios de comunicação por parte dos movimentos, e chama a atenção para novas conquistas, em alguns países, na luta por esse direito fundamental. A jornalista britânica, radicada no Equador, acredita num contexto favorável como não víamos há muito tempo, sobretudo na valorização dos espaços no espectro para os meios públicos de comunicação. “Equador e Bolívia estão debatendo novas leis para um avanço real, Argentina e Uruguai recém adotaram novas leis para essa democratização, além da Venezuela que impôs responsabilidades aos veículos”.
O florescimento cada vez maior de uma comunicação popular é saudado por ela, sem esquecer que esses avanços estão ligados às mudanças políticas que vivemos no continente. “O que se conquistou na Argentina, o reconhecimento dos meios sem fins comerciais e seu direito a um terço do espectro comunicacional, é um exemplo para nossos países”, diz Sally. “Para isso, a mobilização argentina chegou a reunir 50 mil pessoas na rua, esse é o caminho e faz parte dos mesmos processos de criação da ALBA, da Unasul, na direção da integração de nossos povos”.
Como uma das organizadoras do Seminário “Um diálogo necessário para democratizar a comunicacão e impulsionar a integração”, realizado em 9 e 10 de agosto, como atividade prévia ao FSA, Sally conta que foram vários meses de articulações, que mostraram uma série de consensos e avanços em nossas plataformas e lutas pelo direito à comunicação. Observatórios de mídias com participação dos movimentos sociais e da academia, conselhos consultivos, formação de comunicadores populares e o grande crescimento de redes sociais são apontados como comuns a todos os países, na busca da “inclusão de todos ao direito à comunicação, inclusive como atores não apenas como expectadores”.