Milhares de activistas de mais de 50 países participaram no Fórum Social da Mesopotamia, em Diyarbakir, no sudeste da Turquia, uma região maioritariamente habitada pelo povo curdo, perto das fronteiras turcas com a Síria, o Irão e o Iraque. As lutas contra a guerra e o no-liberalismo, a batalha pelos direitos das mulheres, os problemas ambientais e os movimentos de jovens foram os principais temas em discussão, mas o direito do povo curdo à liberdade e à igualdade esteve no centro de todos os debates.
O Fórum realizou-se numa das cidades mais antigas do Mundo, na Mesopotamia, e foi um grande sucesso, com participação massiva de movimentos e organizações curdas e alguns convidados de outras partes da Turquia, do Médio Oriente, da Europa ou da América Latina. Durante três dias, cerca de 10.000 pessoas visitaram o evento, que decorreu no Sümer Park (Parque Sumério). Mais de 4.000 pessoas integraram a Parada de Abertura do Fórum, que atravessou as principais avenidas de Diyarbakir num sábado à tarde.
O primeiro dia do Fórum (domingo) teve grande afluência de público, com debates em torno das questões da juventude, guerras da energia, identidade e cultura, mulheres ou Palestina. O segundo dia teve muito menos participantes mas o terceiro atraiu mais gente. A Marcha das Mulheres, com milhares de mulheres a atravessar as ruas de Diyarbakir ao início da noite, transportando tochas, foi um impressionante evento.
Ao mesmo tempo, decorreu o Acampamento Internacional de Amed (o nome curdo da cidade de Diyarbakir), com o slogan “Internacionalismo significa resistência unida – uma vida livre significa comunalismo democrático”. Participaram cerca de 150 pessoas, do Curdistão, Alemanha, Itália, País Basco, Palestina, França, Áustria, Holanda e Turquia.
A Declaração da Juventude aprovada no final do Fórum definiu que “haverá um acampamento no País Basco em Abril de 2010 e depois um novo acampamento em Amed. Através destas iniciativas, esperamos criar um intercâmbio permanente, com eventos regulares. O objectivo é criar uma rede global de movimentos de juventude anti-capitalistas que possam combater em conjunto o capitalismo e o imperialismo, os sistemas colónias e as estruturas pós-coloniais”.
Doze declarações sobre as diferentes redes foram lidos na Assembleia de Movimentos Sociais do FSM. Na declaração final desta Assembleia concluiu-se que “o Fórum revelou dramaticamente as falhas na democracia da Europa, a hipocrisia da civilização ocidental, a dinâmica interna do sistema capitalista, o carácter dominante dos homens e o mundo real das mulheres”.
Foi também assumido que “é necessária a unidade dos colectivos populares como solução para os problemas sociais, à luz do socialismo democrático e durante a luta das pela liberdade na vida moderna, contra o dogmatismo, os padrões e as perspectivas estreitas”.
A destruição ecológica do planeta, feita em nome do desenvolvimento, foi outro dos aspectos importantes em discussão, tendo-se assumido em declaração que, “como resultado da negação da natureza, as florestas estão a ser queimadas e estão a ser construídas perigosas centrais térmicas ou hidro-energéticas”. Por outro lado, o impacto destruidor das grandes barragens foi discutido sob o título “o uso da água contra os humanos e a natureza”.
Foi decidido “apoiar o povo palestiniano, o direito de regresso dos refugiados palestinianos que foram deslocados em 1948 aos seus locais de origem a apoiar a luta deste povo pela sua auto-determinação”.
A declaração final da “Assembleia das Transformações Culturais no Médio Oriente” focou-se na luta do povo curdo pelos direitos e cultura, definindo que “a língua curda deve ser ensinada desde a infância até à Universidade e deve poder ser utilizada publicamente”, “de acordo com o calendário curdo, o dia 21 de Março deve ser considerado o primeiro dia do ano”, “a imprensa curda deve ser livre e liberta de constrangimentos exteriores” e “o alfabeto latino deve ser usado na escrita curda”.
Outros importantes aspectos relativos à luta do povo curdo foram definidos na declaração da “Assembleia dos Povos do Médio Oriente, Fragmentação e Solidariedade”, onde se defende que “as competências da administração local deve ser aumentada, reforçando-se a descentralização administrativa”, “as Vilas de Guarda [povoações habitadas exclusivamente por militares ou mercenários ao serviço do governo turco no território maioritariamente habitado pelo povo curdo] devem ser abolidas”, estruturas como o JITEM (serviço secreto criado pela polícia) ou a contra-guerrilha devem ser eliminadas e todas as estruturas estatais não-transparentes e sem controle social devem ser abolidas.
Esta declaração também define que “12 anos de escolaridade primária devem ser obrigatórios, gratuitos e leccionados na língua-mãe de cada pessoa” e que “o sistema de educação deve ser revisto rejeitando-se o nacionalismo, a sua base clarista e as crenças e elementos sexistas actualmente existentes nos currículos”.