Restabelecer o poder feminino

Tudo a ver com um dos eixos da Marcha – contra privatização da natureza e dos serviços públicos – a idéia de plantar árvores nas cidades partiu de duas feministas lésbicas, Cintia Abreu, da Liga Brasileira de Lésbicas (LBL) e Rita Ronchetti, do Coletivo LGBT do PT. Mas, a possibilidade de encontrar as mudas para a atividade apenas tornou-se possível com a ajuda de Maria Imaculada, militante da Marcha em Várzea Paulista.

Assim, escolhidas as mudas de ipê roxo, por terem a cor que representa o movimento de mulheres no mundo, escolheram quatro mulheres que simbolizassem a diversidade presente na Marcha: uma indígena, uma trabalhadora rural branca, Carmem Foro, da Contag, representando as negras e Rita, representando as lésbicas e as mulheres urbanas.
“O movimento feminista está recuperando o poder feminino na Terra”, disse Rita no momento de plantar a muda. “Que essas mudas sejam uma devolução e representem o que nós vamos fazer: replantar a Terra e, com isso, retomar o equilíbrio do planeta”.

Soberania alimentar e energética

O ato simbólico teve muito a ver com o tema da formação no dia anterior em Jundiaí. Sobre a resistência das mulheres contra o agronegócio, as transnacionais e a destruição ambiental e as alternativas no campo da produção, comercialização e consumo, as marchantes puderam ouvir as falas de Nívea Regina da Silva, da direção do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), Juliana Malerba, representante da Rede Brasileira de Justiça Ambiental, Isaura Isabel Conte, dirigente do Movimento de Mulheres Camponesas (MMC) e da antropóloga Emília Lisboa Pacheco, representante da Articulação Nacional de Agroecologia.

“As sementes, a água e a terra devem estar em controle de quem produz os alimentos, não das multinacionais do agronegócio”, afirmou Nívea. “A gente defende um modelo de produção camponesa e familiar, que privilegia o consumo local e ajuda até a combater as mudanças climáticas. Temos que afirmar a agroecologia como projeto político que ajuda a construir relações sociais mais justas, inclusive entre homens e mulheres”, completou a dirigente do MST.