Comunicar para a reforma agrária

Foto: André Freire/SJSP

Com a presença de representantes de diversos movimentos sociais e jornalistas, foi criada em 11 de março a rede de comunicadores pela reforma agrária. A iniciativa ocorreu no Sindicato dos Jornalistas de São Paulo. À ocasião, o dirigente do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) João Pedro Stédile lembrou a “cruzada ideológica” contra os movimentos sociais instrumentada pela polícia, a justiça e a mídia. “O MST é a bola da vez para evitar que as organizações tenham atuação mais ativa na próxima campanha eleitoral.”

Não é novidade transformar os sem-terra em alvo preferencial, como apontou ele: “Houve época em que havia na Polícia Federal um departamento especializado em MST. Todos os nossos sigilos bancários já foram quebrados. Os telefones nossos estão grampeados desde 2004. Quanto à CPMI (Companhia Parlamentar Mista de Inquérito), é a terceira que nos investiga, é o palanque permanente nessa luta para criminalizar os movimentos sociais.” Na sua ótica, o único objetivo é criar factóides para chegar à imprensa. “Querem bater na gente e nós queremos saber quem fabrica agrotóxicos, porque a Cutrale comprou uma área pública grilada, o destino dos recursos que vêm para os ruralistas.” Ainda segundo Stédile, a favor dos movimentos, têm-se fatos políticos como o do chamado “mensalão do DEM”, que culminou com o afastamento e prisão do governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda. Para o dirigente, isso ajuda a politizar o debate.

Respondendo a 22 processos na Justiça – nove deles de autoria do banqueiro Daniel Dantas -, o jornalista Paulo Henrique Amorim acredita que circunstâncias como a que ele e colegas de profissão vivenciam mostram o processo acelerado de tentar criminalizar a luta política com conteúdo ideológico. “Um fenômeno extremamente grave é a politização da Justiça brasileira, que se torna, de um lado, instrumento para a censura da liberdade de expressão e, de outro, serve para referendar tipos de expressão e interesses da elite brasileira.” Ele vaticinou: “Estamos vivendo um processo de criminalização de jornalistas, uma circunstância nova que se associa à tentativa de fechar a Internet.”

Linhas de frente

Na sua concepção, a grande mídia brasileira – que denomina PiG (Partido da Imprensa Golpista) – colabora nesse processo crescente de tentar calar os movimentos sociais, cuja resistência maciça se dá por meio de sites, blogs etc. “Não há outra forma de batalhar pela opinião pública.” Amorim destacou que esse mecanismo de multiplicação da informação tem que ser bem aproveitado, sobretudo mediante o uso de áudio, vídeo, galeria de imagens, que são “elementos que dão audiência”. Essa, no caso da Internet, conforme observou, é controlada pelo google e é preciso saber utilizar as ferramentas adequadas para garantir o “último reduto da liberdade de expressão”.

A rede criada tem caráter nacional. Atuará em diversas frentes, como lembrou o jornalista Altamiro Borges, em apoio à reforma agrária e em defesa dos movimentos sociais que lutam pela terra no Brasil. Além de recomendar atenção especial ao tema nos veículos de mídia alternativa, incluirá a criação de um blog para a postagem de informações sobre o assunto. Também foram formados grupos de trabalho para a coleta de dados sobre o campo e o agronegócio, para angariar apoio de personalidades à reforma agrária e para pautar a questão do ponto de vista que não aparece na mídia convencional.

A jornalista Verena Glass, uma das articuladoras da rede que ficará encarregada de um núcleo de pautas e subsídios para jornalistas e comunicadoras/es participantes, acha importante enfrentar a diferença
de pesos e medidas que a grande imprensa utiliza para denunciar conflitos no campo. No caso das mulheres na ação contra a Aracruz, por exemplo, ela recorda o modo escandaloso com que a mídia divulgou a destruição de mudas de eucaliptos. Mas na origem dos conflitos estava
a destruição de casas indígenas por agentes federais, em atendimento a liminar concedida à multinacional, que garantiu apoio logístico e equipamentos à ação, a qual não foi tratada como crime.