Campinas e Valinhos nunca viram tantas mulheres juntas. A ousada ação da Marcha Mundial das Mulheres (MMM) no Brasil, colocou nesta segunda, dia 8, mais de 2 mil mulheres no ato de comemoração do dia 8 de março, e na abertura da marcha que as ativistas farão durante dez dias, até a capital paulista.
As delegações vindas do nordeste, como as 350 do Rio Grande do Norte, eram as mais animadas, apesar de viagens de ônibus de três ou quatro dias. Participam da marcha mulheres vindas de 25 estados: AC, AL, AM, AP, BA, CE, DF, GO, MA, MG, MS, PA, PB, PE, PI, PR, RJ, RN, RO, RR, RS, SC, SE, SP e TO. São várias delegações em cada estado, contando também com mulheres de diversos movimentos sociais como MST, CUT, Contag, Consulta Popular, UNE, MAB e MMC.
A batucada feminista estava enorme, a diversidade brasileira era destaque, não havia quem não saísse à rua para olhar,
“Se cuida, se cuida, se cuida seu machista, que a América Latina vai ser toda feminista”.
“A nossa luta é todo dia, somos mulheres e não mercadoria”.
“A nossa luta é por respeito, mulher não é só bunda e peito”.
“A violência contra a mulher não é o mundo que a gente quer”…
Músicas tradicionais do movimento da MMM eram entoadas com os diversos sotaques brasileiros. A animação e a irreverência era total nos mais de quatro kilômetros percorridos por uma massa compacta de mulheres, já noite, rumo a primeira hospedagem coletiva que teriam, no Ginásio Rogê Ferreira, em Campinas.
Vontade de mudar o mundo
Além do espaço do ginásio, três grandes tendas acomodaram lá fora tantas cansadas mulheres. O banho, concorridíssimo, embora frio e coletivo, fez a fila estender-se até tarde da noite, enquanto algumas comissões de trabalho se reuniam e todas as dificuldades eram contornadas.
Tradicionalmente sem muitos recursos, o movimento de mulheres está acostumado, assim como as mulheres, a fazer várias coisas ao mesmo tempo e superar grandes dificuldades. Só assim, para explicar todo aquele movimento de armar e desarmar sacos de dormir, colchonetes e colchões infláveis, fila para escovar os dentes, para o banheiro, para tudo. Às quatro da manhã, as marchantes já acordavam e levantavam acampamento, tomavam seu humilde café da manhã (sem café), e se punham na estrada em direção à Valinhos.
De novo as bandeiras lilases e vermelhas (principalmente do MST) acompanhavam a marcha em duas fileiras – nem sempre muito certinha, mas dizendo aos passantes que começavam o dia das lutas e reivindicações da Marcha Mundial das Mulheres. A enorme caminhada foi várias vezes saudada na estrada. Primeiro, pelas mulheres do Sindicato dos Metalúrgicos, com uma linda faixa e o canto de uma música, que se prolongava conforme passavam as marchantes; depois uma faixa enorme no viaduto, com os dizeres: Mulheres em movimento mudam o mundo; no bairro de São Vicente, já quase saindo de Campinas, o tradicional grupo de mulheres Sinal Verde esperava a marcha na estrada com uma faixa de saudação e juntou-se as caminhantes.
Ao entrarmos em Valinhos, fomos recebidas pelo movimento de mulheres local, com uma chuva de pétalas de rosas e a distribuição de pães, uma alusão ao movimento inspirador da MMM, Pão e Rosas, ocorrido em 1995, no Canadá.
Claro que fomos também agredidas algumas vezes por homens que passavam, sobretudo pelos motoristas que queriam furar a marcha com seus carros. Para isso, tivemos o apoio dos serviços de trânsito e da polícia militar, com muitas policiais mulheres nos acompanhando, fato que também chamou a atenção. Apoio fundamental também foi o da organização das mulheres, cuidando da segurança, da saúde, da distribuição de água, do carro de som que nos acompanhou, animando a longa caminhada.
Realmente, muita vontade de mudar o mundo movimenta essas mulheres. Pois essa ação é fruto de um preparo de longos meses, em todos os estados brasileiros. A plataforma desta 3ª ação se baseia em quatro eixos: autonomia econômica das mulheres; bens comuns e serviços públicos (contra a privatização da natureza e dos serviços públicos); violência contras as mulheres e paz e desmilitarização