06/03/2010 19:23
As necessidades elementares, por Sucena Shkrada Resk
O Haiti e o Chile ainda têm uma longa jornada para conseguir restituir o que pode se chamar de retomada da normalidade. Os dias 12 de janeiro e 27 de fevereiro precisam ficar marcados para a humanidade, como exemplos de que a fragilidade do ser humano à força da natureza não é superada por padrões de crescimento, que se pautam em explorar cada vez mais riquezas do nosso solo e águas e, inclusive, do universo. Ao mesmo tempo, é possível detectar uma corrente de solidariedade de vários segmentos, inclusive do futebol, com doações de jogos amistosos antes da Copa ao Haiti. Estamos em um tempo de revisão de valores.
Só no Haiti, segundo agências de notícias internacionais, 1,3 milhão de civis não têm onde morar e mais de 220 mil estão mortos. Essa é a realidade dois meses depois do terremoto. No Chile, o número de residências a serem reconstruídas também chega a 1,3 milhão, conforme estimativas governamentais. Muito trabalho de mitigação e adaptação que levará anos…Enquanto isso, profissionais da Defesa Civil, de organizações como Cruz Vermelha, Médicos Sem Fronteiras, entre outros, se desdobram no socorro às vítimas. Cidadãos desses países com atitudes resilientes auxiliam uns aos outros. Não há tempo a perder, pois ferimentos, casos de diarréia e desnutrição matam sem piedade. As condições sanitárias são o que mais preocupa os especialistas em saúde e autoridades. Centenas de pessoas estão bebendo água contaminada e vivendo entre o lixo.
Nesse momento de crise civilizatória, é possível questionar do que adianta o homem ir à Lua e gastar bilhões para desvendar os segredos do espaço, se de um dia para outro, milhares de pessoas estão mortas ou desabrigadas, sem acesso a saneamento básico e ao mínimo de infraestrutura para viver no planeta Terra.
É interessante fazer algumas comparações. O orçamento anual da Agência Nacional Norte-Americana, por exemplo, é de US$ 18,7 bi, um pouco acima do valor que deverá ser gasto para a infraestrutura da Copa do Mundo, no Brasil, segundo o governo. O Produto Interno Bruto (PIB) do Haiti, em 2008, era de US$ 6,9 bilhões. Segundo especialistas, provavelmente serão necessários pelo o menos 15% desse valor para que nos próximos anos, o mais pobre país das Américas consiga se recuperar. Agora, recuperar uma situação que já era – sem os efeitos do terremoto – de extrema carência, com habitações que não suportam terremotos… Esses são exercícios de reflexão importantes a se fazer.
O presidente Barack Obama deve ir ao Haiti, na próxima semana, quando se reunirá com René Préval. Daí definirá o teor de auxílio que os EUA se comprometerá a efetivar. Nicolas Sarkozy anunciou uma ajuda de 270 milhões de euros, nos próximos dois anos. Historicamente há uma dívida da França para com o ex-país colonizado, que não pode ser esquecida, e chega a ser surreal a França decidir ‘cancelar’ a dívida de 56 milhões de euros que o país caribenho mantinha. Uma mesma palavra tem sentidos tão diferentes…
No Chile, cidades como Concepción, Talcahuano, Bio Bio e o povoado de Dichato estão em situação de calamidade pública. Apesar de o país estar ‘crescendo’ nos últimos anos e manter renda per capita das mais favoráveis na América do Sul, não estava preparado para o abalo de 8.8 graus e ‘falhou’ quanto ao alerta do Tsunami. Isso acabou resultando na demissão do responsável pelos ‘alertas’.
Hoje mesmo, o país sofreu mais um abalo sísmico, o que vem ocorrendo há dias. Ainda não se sabe ao certo o número de mortos, estima-se que sejam na faixa de 800, mas foram encontrados cerca de 450 corpos. Outras pessoas estão desaparecidas, muitas tragadas pelas águas. Diante desse cenário de catástrofe climática, campanhas movimentam vários países, mas é necessário se ter em mente, que as ajudas multilaterais deverão ser a longo prazo. A Organização das Nações Unidas (ONU) deve enviar US$ 10 mi para o auxílio da recuperação. A estimativa da atual presidente Michelle Bachelet (que daqui alguns dias sairá do cargo, quando será empossado o novo presidente, Sebastián Piñera) é que pelo o menos serão necessários quatro anos para que o Chile consiga estabilizar a reconstrução.
Fonte: Blog Cidadãos do Mundo – Sucena Shkrada Resk
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