Muito além do consumo inconsciente

Além do problema do consumo inconsciente, há uma mazela maior a ser refletida – o subconsumo. Essa foi a discussão trazida pelo indiano Amit Sengupta, da organização Peoples Health Movement, durante o Seminário Dez anos depois: Desafios e propostas para um outro mundo possível, dentro da programação do Fórum Social Mundial (FSM) 10 anos, em Porto Alegre, nesta última quinta-feira (28). O militante propõe que o evento, nesse sentido, se mobilize ao desafio de se tornar um espaço multiplicador de outras iniciativas pelo mundo, de construção de uma hegemonia alternativa.

“É preciso desafiar as classes dominantes. Em Mumbai, que é a terceira maior cidade do mundo, a pobreza é grave. Dez pessoas morrem por dia, por exemplo, porque têm de pegar transporte público urbano, que é muito inseguro. Embora tenhamos a Índia dos turistas, temos a Índia dos sem-teto, andarilhos, que foram tirados de suas terras e estão desempregados, sem comida”, diz.

O indiano alerta que não é possível se fechar os olhos a essa questão. “Acredito que 50% dos cidadãos de meu país compartilham da visão de querer salvar o planeta. Mas muitas pessoas no mundo não têm esse interesse.”
Nesse contexto, Sengupta analisa que o FSM começou há dez anos, em Porto Alegre, mostrando que o “monstro” do capital global poderia ser desafiado. “Era um dos poucos lugares onde a voz saiu do sul para o sul. Estamos dez anos depois decidindo se vamos fazer história”, afirma.

O representante da Peoples Health Movement considera que é possível que os países em desenvolvimento reconstruam os parâmetros de crescimento, e citou a importância do Brasil nesse processo, junto à Índia.

A sua crítica vai para os países com governos progressistas e de esquerda. “Fico incomodado que a construção da hegemonia alternativa seja uma eterna oposição (direita-esquerda). Não podemos construir o socialismo do século XXI sem enfrentar o do século XX.”

Sengupta acredita que o caminho é que a humanidade seja capaz de revolucionar as forças produtivas. “Embora o capitalismo pareça estar morrendo, ainda procura colonizar nosso futuro. Em nível global, movimentos feministas, de defesa do clima surgiram porque os antigos não conseguiam captar as aspirações das pessoas. Precisamos ir além da hostilidade, precisamos de uma nova linguagem para que os antigos e novos movimentos possam conversar um com o outro”, analisa.

Segundo ele, é natural a impaciência dos integrantes no FSM em buscas de soluções. “O desafio é ver se podemos trazer movimentos de outros lugares que vejam no fórum um espaço para construir hegemonia futura. Em Porto Alegre, em Nairobi, em Belém, havia esperança de transformação. O amanhã pertence a nós e ninguém pode nos tirar isso.”

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Fonte: Blog Cidadãos do Mundo

Sucena Shkrada Resk – www.twitter.com/SucenaSResk