Uma cidade que não dorme, com um trânsito contínuo de pessoas e bicicletas em um ciclo de convivência/troca/(re)aprendizado; e vez enquando um grupo sentado à sargeta, ou na grama, tocando uma música ou (re)pensando, e várias barracas, várias redes, e redes e redes interligadas além campings; e ações midiáticas, gritos de guerra e saudações que antes não significavam nada, mas agora tem poder. (?)
Chuva chuvisco alagadiço – água é fartura – noites frias e matagais. Rio trapiche periquitos e mariscos, segue a trilha que dá lá. Sempre um som há de se buscar, e caminhar estrada afora, UFRA, ufa, já andei demais. E o que fiz? Dá vontade de ficar de molho nesse rio.
Acampamento Intercontinental da Juventude, espaço físico-geográfico destinado a acolher participantes do Fórum Social Mundial, induzindo-os à convergência de informações/culturas. Distribuído ao longo da Universidade Federal Rural da Amazônia, proporcionou um cenário propício a ações artístico-imersivas.
ELE FAL(H)OU: trabalho de performance de rua, que relaciona ELE a um profeta/mendigo/anjo, que procura FALAR os útimos ditos proféticos, referindo-se a um trecho do livro Os Irmãos Karamázov de Dostoiévski, em que o stáriets Zósima relata ao seu discípulo Aliócha a aparente total liberdade e poder do homem, que na verdade é feita de dependência e escravidão às necessidades cada vez maiores criadas pelo próprio homem, e que o leva à solidão e ao suicídio; e também refere-se ao que ELE, o homem como ser humano vivente deste meio/logos/espaço, FALHOU em vários aspectos, mas principalmente em sua relação com a natureza. Até onde ELE contribui para a preservação e manutenção do espaço natural que o cerca, sua relação com a própria produção de lixo?
O artista desenvolve uma ação em que ele é um ser/rua/místico, que colhe lixos atrelando-os a sua roupa, exaltando o “deus lixeira”, aplaudindo árvores e profetizando o texto referência (texto do livro Os Irmãos Karamázov).
“O mundo proclamou a liberdade, sobretudo nestes derradeiros anos, e que representa ela? Nada mais senão a escravidão e o suicídio! Porque o mundo diz: ‘Tu tens necessidades, satisfaze-as, porque possuis os mesmos direitos que os grandes e os ricos. Não temas satisfazê-las, aumenta-as mesmo’. Eis o que se ensina atualmente. Tal é a concepção deles de liberdade. E que resulta desse direito de aumentar as necessidades?(…)Concebendo a liberdade como o aumento das necessidades e sua pronta satisfação, alteram-lhes a natureza, porque fazem nascer neles uma multidão de desejos insensatos, de hábitos e imaginações absurdos. Não vivem senão para invejar-se mutuamente, para a sensualidade e a ostentação.(…) De modo que a idéia do devotamento à humanidade, da fraternidade e da solidariedade desaparece gradualmente do mundo; na realidade, acolhem-na mesmo com derrisão, porque como desfazer-se de seus hábitos, aonde irá aquele prisioneiro das necessidades inumeráveis que ele próprio inventou? Na solidão, preocupa-se muito pouco com a coletividade. Afinal de contas, os bens materiais aumentaram e a alegria diminuiu.”