Na diáspora

A declaração foi feita pelo contador Walid Sad Tamimi, um dos 117 refugiados palestinos que chegaram ao Brasil em setembro de 2007. Walid faz parte do grupo de 57 palestinos que se instalaram em Mogi das Cruzes, município de São Paulo e deu um depoimento que comoveu cerca de 40 pessoas. Elas estavam reunidas numa das salas do Centro de Eventos São Luís, onde ocorreu o sábado-feira, evento que marcou as ações do Dia de Ação e Mobilização Global, 26/01, na cidade de São Paulo.

Os palestinos foram recebidos pelo governo brasileiro depois dos esforços de dois ativistas de organizações internacionais de direitos humanos, que documentaram a situação que estavam vivendo. O americano Adam e a libanesa Perla se sensibilizaram com a história deles e foram até o acampamento onde moravam para filmar e fotografar. Há cinco anos, Walid e sua família estavam vivendo com outros 1660 palestinos num campo de refugiados, que abrigava 3 mil pessoas de diversas nacionalidades, no deserto da Jordânia, há 70 quilômetros da fronteira com o Iraque.

“Enquanto Saddam Hussein estava no poder, contávamos com uma infra-estrutura decente. Depois, chegaram muitas famílias vindas de diversas partes e daí não tínhamos mais o mínimo como condições de higiene e assistência à saúde”, disse Walid, que morou todo esse tempo numa tenda de seis metros quadrados com a mulher e os dois filhos.

Antes disso, porém, o refugiado passou por outros lugares. Ele resumiu suas idas e vindas pelo mundo até chegar aqui. No final de 1967 e início de 1968, quando ainda era um bebê de 1 ano, a ocupação de diversos territórios palestinos por Israel acabou provocando a fuga de diversas famílias. Por conta disso, foram parar num grande campo de refugiados em Amã, capital da Jordânia. Depois da guerra de 1971, seguiram para o Iraque. Em 1974, foram para o Líbano. Alguns anos depois, foram para a Síria, com esperança de se estabelecerem definitivamente por lá. Porém, depois de estar quase tudo acertado, de toda a documentação estar em dia, o governo da Síria negou a permanência da família, que precisou retornar ao Iraque. Lá, permaneceram até 2003, quando começou a guerra no Iraque, e eles foram enviados ao campo onde permaneceram até virem para cá.

“Somos muito gratos ao governo brasileiro, que foi o único em todo o mundo que se sensibilizou com nossa causa. Só o fato de terem nos recebido já é o suficiente para nós”, rebateu Walid Sad Tamimi, após questionamento da platéia sobre o que o governo brasileiro estava proporcionando aos refugiados. Em outros países o governo concede benefícios como bolsa-auxílio. Aqui, isso não vem ocorrendo. Três funcionários da Cáritas de Mogi das Cruzes vêm se revezando nos cuidados com o grupo (como alimentação, moradia, saúde).

Nem mesmo as nove crianças do grupo foram matriculadas nas escolas da região. “Desde que chegamos, o governo diz que as crianças irão para a escola na semana que vem. Muitas de nossas crianças nunca frequentaram a escola. Se ao menos pudessem frequentar como ouvintes, já se habituariam à língua”, lamentou. No entanto, apesar das dificuldades de adaptação a um país que até então era totalmente desconhecido para ele, Walid exibiu com orgulho seu documento brasileiro, de refugiado estrangeiro legal, e agradeceu a oportunidade de poder contar sua história.

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